sexta-feira, 24 de abril de 2015

Filmes pro final de semana - 24/04

 1. Sniper Americano (American Sniper, 2014)
Os filmes sobre guerras, cujo apogeu foram as décadas de 70 e 80, pós- Guerra do Vietnã, ainda têm muito a nos oferecer. É o que prova Sniper Americano. Dirigido pelo sempre competente Clint Eastwood, é baseado na história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), o mais letal atirador de elite da história militar norte americana. Foram mais de 150 mortes confirmadas pelo Pentágono, chegando a 250 em versões não confirmadas. O mérito de Sniper Americano é fazer o que seus antecessores dos anos 80 também fizeram: acompanhar a degradação psicológica e moral de Chris ao longo do tempo, e os graves efeitos da guerra na sua mente e na sua vida social.
Nota: 8,0/ 10
2. Magia ao luar (Magic in the Moonlight, 2014)
O último filme filme de Woody Allen pode ser definido bem rapidamente como uma graça. Woody viaja no tempo e nos leva à Europa dos charmosos anos 20, onde somos apresentados a Stanley Crawford (Colin Firth), que nos palcos é o magnífico mago chinês Wei Ling Soo, mas fora deles é um cético incorrigível e arrogante o suficiente pra desprezar todo e qualquer crédulo. Stanley é convocado por um amigo,também mágico, a desmascarar uma jovem médium (Emma Stone) que está impressionando na Riviera Francesa, principalmente a rica família que a acolheu. Acontece que por mais que se esforce, Stanley não consegue encontrar falhas na garota. E quando um cético acredita em algo, ele acredita de verdade - e mais que confiança, essa conflituosa relação 
Nota: 9,0 / 10
3. Ela (Her, 2013)
Sem dúvidas um dos melhores e mais bonitos filmes dos últimos anos. Theodore (Joaquin Phoenix) é um solitário escritor que acaba se apaixonando por um sistema operacional (OS). O filme é ambientado num futuro próximo, onde a tecnologia é sutilmente mais avançada que no presente, e os sistemas operacionais são grandes facilitadores da vida das pessoas. Samantha (voz de Scarlett Johansson), o OS de Theodore, dotado de voz feminina e personalidade, acaba por envolver seu dono. A ideia do amor entre um homem e um software parece totalmente plausível, apesar de uma certa estranheza com que muitas pessoas encaram a relação. A proposta é fazer pensar na relação de dependência com a tecnologia além de, claro, afirmar que toda forma de amor vale a pena.
Nota: 10
4. Precisamos falar sobre o Kevin (We need to talk about Kevin, 2011)
Mais uma vitória do circuito semi-alternativo americano. Um filme tenso, provocador, reflexivo e belo - beleza oculta por mágoas, mas belo. O longa baseado no best-seller homônimo é focado na figura de Eva Khatchadourian (Tilda Swinton), cuja história é montada a partir de flashbacks que datam da infância de seu filho mais velho, Kevin (Ezra Miller) até a adolescência dele; o menino doce que escondia birras e uma certa maldade que só a mãe parecia perceber, a ligação aparentemente saudável com o pai Franklin (John C. Kelly) e a paixão pelo arco e flecha, que tem papel importantíssimo na história. Desde o início vemos do que Kevin foi capaz de fazer, mas ver todo os antecedentes e o agravamento da relação entre mãe e filho é o que o filme mais tem de espetacular, realçado pelas excelentes atuações de Ezra Miller e Tilda Swinton. Sem dúvida uma das melhores críticas à sociedade americana contemporânea.
Nota: 9/ 10
5. Todos os homens do presidente (All the President's men, 1976)
Um filme de investigação jornalística sem paralelo. Baseado num escândalo da política americana dos anos 70, Todos os homens do presidente tem seu ponto de partida no assalto à uma sede do Partido Democrata. Analisando o pouco valor subtraído e a condição social dos suspeitos, dois jornalistas do The Washington Post (Dustin Hoffman e Robert Redford) farejam um mistério que desafia figurões do alto escalão da política e pegam um rastro que segue até a Casa Branca. Apoiados por seu editor chefe e com o inconstante apoio de um informante que soltava apenas poucos detalhes do que sabiam, a dupla enfrenta inimigos poderosos que mal conhecem, numa caçada que pode abalar os pilares da política mais influente do mundo.
Nota: 10

terça-feira, 21 de abril de 2015

A Rede Social - Crônica de uma geração

Há uns quatro anos eu via pela primeira vez a cerimônia do Oscar tendo assistido a boa parte dos filmes que concorriam, e começava a arriscar meus palpites. Na ocasião, obviamente, torcia por Cisne Negro na categoria principal, mas não achei ruim O discurso do rei ter levado o prêmio. O que me deixava intrigado era: o que A rede social estava fazendo na lista, concorrendo a tantas estatuetas? O tempo passou, meu pequeno conhecimento sobre cinema aumentou um pouco, o gosto apurou, A rede social foi novamente assistido e eu tenho a resposta da pergunta de 2011 na ponta da língua: é um filmaço. Diferente do que todo mundo pensou na época de seu lançamento, A rede social não é um filme sobre o Facebook ou sua criação. O evento acaba sendo só o plano de fundo pra o muito que o filme tem a oferecer.
O ano é 2003 e estamos na Universidade Harvard, uma das melhores e mais prestigiadas do mundo, e certamente a mais socialmente estratificada dos Estados Unidos. Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) é um jovem aspirante a programador que rompe com a namorada Erica depois de uma briga um tanto tola, mas que segundo ela foi mais uma manifestação da arrogância e falta de sensibilidade de Mark. Abalado, ele vai pro dormitório e começa a beber e escrever em seu blog pessoal. Quanto mais bêbado ficava, mais ofensas dirigia à ex e às mulheres em geral. Além disso, ele teve a ideia de criar um site chamado Facemash, com fotos de todas as alunas da universidade, para criar um ranking das mais bonitas. Lá pelas tantas seu melhor amigo, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) aparece e Mark lhe pede um algoritmo que permita fazer a comparação no Facemash. O site vai pro ar, se torna um sucesso instantâneo em plena madrugada, e às 4h da manhã derruba o servidor de Harvard. Foram 22 mil acessos em apenas duas horas.
A fama do Facemash deu, além de uma audiência no conselho de disciplina de Harvard, uma certa notoriedade a Mark. É aí que entram em cena os gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss, jovens aristocratas da equipe de remo, que junto de seu amigo Divya Narendra, queriam construir um site de relacionamentos para estudantes de Harvard - que teria o domínio Harvard.edu, "o endereço de email mais prestigiado do país". O fato de Mark ter criado um site em apenas algumas horas, e bêbado, fez os três verem o potencial de Zuckerberg, e o convidam a ser o programador do seu projeto. Acontece que onde os Winklevoss e Narendra viam um site pra uma universidade, Mark via algo muito maior. Ele enrolou os gêmeos por mais de quarenta dias, fingindo que não estava trabalhando no projeto deles, até que lança um projeto seu: thefacebook. Põe o site no ar com a ajuda de Saverin e outros amigos, informando em todas as páginas que se tratava de uma realização de Mark Zuckerberg. Não demora muito e os gêmeos o processam por roubo de propriedade intelectual.
Com o apoio financeiro de Saverin, o thefacebook sai dos muros de Harvard e alcança outras universidades, sendo um sucesso em todas. É aí que a amizade do brasileiro com Mark começa a desandar. Eles conhecem Sean Parker (Justin Timberlake), criador do Napster, que chega com mil ideias para alavancar o site; acontece que a antipatia entre Parker e Saverin é imediata, e culmina numa armação para afastar o brasileiro da empreitada. Resultado: Saverin também processa Zuckerberg.
A Rede Social (The social network, 2010) é um filme repleto de ironias. A primeira delas: um site de relacionamentos que fez várias pessoas, inclusive dois melhores amigos, brigarem. O interessante é que momentos da época da criação do Facebook (que perdeu o "the" com uma sugestão de Parker) são intercalados com cenas da batalha judicial pelo site, em que os três lados (Mark, Saverin e os gêmeos) lavam muita roupa suja nas audiências de conciliação. Essas audiências são cheias de exposição de mágoas, intrigas, decepções, traições e inveja. Acho que por mais que o filme tente ser imparcial na exposição da história, unindo os pontos de vista das três partes pra montar o enredo, ele acaba se desviando pra o lado que aponta um culpado - e aí vem outra ironia fortíssima: em volta da origem da maior rede de relacionamentos do mundo, a incapacidade de se manter relações duradouras.
Os protagonistas são expostos como mitos da sociedade contemporânea, em especial, claro, Mark Zuckerberg. Criador do Facebook aos 19 anos, aos vinte e poucos considerado o bilionário mais jovem do mundo, Mark é uma representação do poder de ser genial. De como é incrível ser jovem e muito mais que ser inteligente, ser criativo e inovador. Bilionário parece ser o de menos, o que é realmente vibrante é despontar como um garoto prodígio. E é nesse sentido que a direção de David Fincher leva o filme durante todo o tempo. Direção, inclusive, que pode ser resumida numa palavra: espetacular. Espetacular como todos os outros aspectos artísticos e técnicos do filme, que pra mim foi um dos três melhores no cinema americano num ano de ótima safra.

Nota: 10

Luís F. Passos