quinta-feira, 19 de junho de 2014

Chico, o setentão

Fui apresentado ao nome Chico Buarque quando criança, não lembro bem em que ano, por ele estar ao lado de uns versos no meu livro de português. Era a letra de A banda, música que eu já conhecia, apesar de não saber quem era seu compositor. Ainda nesse ano, estava à toa na vida e no mesmo livro vi outra música, João e Maria, cujos batalhões, alemães e canhões me faziam rir ao mesmo tempo em que admirava a beleza da letra - que hoje é uma de minhas preferidas, e pra mim é o cúmulo da poesia; nem mesmo um poema é tão poético. O grande reencontro com Chico aconteceu anos depois, quando eu já era bem crescido e vivia procurando novos cantores e bandas pra ouvir, pois parecia que eu estava enjoando de todos. Dentre os escolhidos estava Chico, por alguns motivos como eu não conhecer nada de um cara tão famoso e importante e uma amiga de escola ser apaixonada por ele.  
Então lá fui eu atrás das músicas do cara. E começar com Construção é pra deixar qualquer um doido. Como uma música podia ser tão boa, tão bem trabalhada, tão rica? E ao longos dos meses fui conhecendo a obra musical de Chico e suas várias facetas. O político da Roda Viva, o trovador de Morena dos Olhos d'água, o amante de Tatuagem - destaque para os eu líricos femininos inesquecíveis -, o malandro de Mambembe, o sambista de Vai passar, entre outras. Um talento que se destaca desde a década de 60, nos festivais da Música Brasileira organizados pela Record, atravessando os duros anos da ditadura, vivendo no exílio na Itália (sempre produzindo; impossível não lembrar de Meu caro amigo) e exibindo habilidade na literatura e no teatro também.
Em 2010 Chico lançou seu último livro, Leite Derramado. Já falei sobre ele aqui, e também comentei que sabe Deus porque toda vez que via a capa lembrava de Olhos nos olhos e vinha à minha cabeça o "quando você me deixou, meu bem..." - não deve ter nada a ver, só doidice minha. O fato é que quando li gostei muito, os críticos também gostaram e o livro foi vencedor do prêmio Jabuti. Cheguei a ler outra obra dele, Estorvo, também muito boa. 
Já tem tempo que não leio nada de Chico, mas sempre tô ouvindo suas canções. A última paixonite é Cecília, simples mas de singular beleza. Além daquelas que são impossíveis de ficar muito tempo sem ouvir, como Carolina, Eu te amo, Olhos nos olhos, Samba do grande amor, Ela faz cinema, Geni e o zepelim, Atrás da porta (seja na voz de Chico ou de Elis), Cálice, Minha história, As vitrines, entre tantas outras. Ah, e Querido diário e Se eu soubesse, do cd lançado em 2011.
E hoje Chico faz 70 anos e o Brasil, além de muita gente mundo afora, comemora com ele e lhe deseja tudo o que é coisa boa e muitos anos de vida pra que ele continue enriquecendo nossa música, nossa literatura, nossa arte. Pra que o gênio, filho de um dos maiores intelectuais do século passado, continue cativando fãs com a austera simpatia, sorrisos contidos e a discrição condizente com um senhor tão elegante - e nas palavras de Maria Bethânia, o homem mais bonito do mundo. Parabéns, Chico.

Luís F. Passos

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