terça-feira, 6 de maio de 2014

O Despertar de uma Paixão - amor que vem do improvável

O romance pouco usual de 2006 O despertar de uma paixão (The painted veil) conta com uma incrível parceria: a dos atores Edward Norton e Naomi Watts. Ambos, além de protagonizarem o trama, também tiveram importância crucial para a produção e o lançamento deste pequeno, porém grandioso, filme. Com ares de cinema clássico americano e a elegância do cinema europeu, este filme traz um enredo muito simples e puro em suas propostas, mas muito atípico em seu desenvolvimento.
Em O despertar de uma paixão, temos um jovem casal de ingleses, Kitty (Naomi Watts) e Walter (Edward Norton). O único motivo que levou Kitty a casar-se com Walter foi exclusivamente encontrar nele a chance perfeita de fugir, literalmente para o mais longe o possível, da desagradável presença de sua mãe. Já Walter sim tinha intenções nobres com relação à moça. Encontrava-se totalmente apaixonado por ela e disposto a fazer de tudo que tivesse a seu alcance para torná-la feliz. Recém-casados, ambos partem para a Xangai dos anos 20 onde Walter iria trabalhar em seu ofício de bacteriologista.
As gigantes diferenças, a busca infrutífera por uma figura projetada de seus sonhos em pessoas reais e a balança de sentimentos totalmente desfavorável são o necessário para fomentar a degradação cada vez mais óbvia e previsível ente o relacionamento dos dois. O que nunca foi firme logo se deteriora conforme Kitty toma decisões irresponsáveis e passionais. Como castigo para a traição da esposa, Walter lhe dá um ultimato: ou lhe dá o divórcio acompanhado de um verdadeiro escorraçamento social ou lhe dá o divórcio de forma tranquila, após ela passar um tempo com ele vivendo em um distante vilarejo perdido no meio do país e assolado por uma epidemia mortal de cólera.
É neste momento que o filme toma uma nova forma. Apesar de todas as condições predisporem a uma separação cada vez maior do enfraquecido relacionamento conjugal, o que ocorre na verdade é o contrário. Num gradativo processo que se inicia com respeito e admiração, tirando o desprezo ofensivo que havia sido colocado entre os dois, e o substituindo, por fim, por paixão propriamente dita.
Tudo isto não é necessariamente impensável, sendo o caminho mais fácil e tradicional a ser seguido. No entanto, O despertar de uma paixão é um filme muito bom. Sua trama poderia facilmente cair nos lugares comuns clássicos, mas todo o enredo se passa num contexto tão exótico e tão incomum que o filme ganha muitos pontos num quesito de originalidade, tornando-o, além de algo diferente do padrão, algo muito interessante em termos visuais, visto que a ambientação histórica daqueles lugares tão belos quanto inóspitos de um lugar tão pouco explorado visualmente pelo cinema ocidental como o interior da China torna a fotografia belíssima. Fotografia essa que ainda vem acompanhada de uma elegante e sóbria trilha sonora e das mais elegantes e sóbrias ainda atuações de Naomi Watts e Edward Norton. Uma dupla de atores sensacionais que não competem em tela para mostrar quem é mais competente (o que é impossível de determinar), mas que trabalham em simbiose, tornando impossível conceber Kitty sem Walter, e vice-versa. As atuações são elegantes e são cruas. Nada muito enfeitado. Nada de drama exagerado. Sentimentos crus, puros e diretos que combinam muito com o ritmo lento com que a trama se desenrola. Lembrando que lento não quer dizer entediante.
Também vale lembrar que O despertar de uma paixão ainda coloca como segundo plano de sua narrativa o interessante e problemático conflito existente em virtude do imperialismo europeu do século XIX, pontuando o filme de momentos de maior tensão. Não muita tensão – nada que tire o foco do casal central.
O despertar de uma paixão: não muito quente, não muito frio. Um filme interessante, belíssimo (tão correto e harmônico que é como ver uma pintura clássica) e muito bem produzido que não nos excita demais, mas jamais nos decepciona.

Nota: 8,0/ 10

Lucas Moura

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