sexta-feira, 16 de maio de 2014

Filmes pro final de semana - 16/05

1. Meia-noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)
25 anos depois de Hannah e suas irmãs, Woody Allen estabelece um novo campeão de bilheteria entre seus filmes. A história do escritor Gil Pender (Owen Wilson), que consegue viajar no tempo na capital francesa e aproveitar a efervescência cultural dos anos 20 encantou milhões de pessoas por todo o mundo. Ao lado de pintores vanguardistas e escritores que guiaram toda a literatura do século, Gil vai descobrir que mais vale viver o presente e tentar ser feliz independente do tempo ou do espaço. Woody passa essa lição ao longo de 1h30 em belos cenários, fazendo a cidade luz e seu espírito serem os protagonistas do longa.
Nota: 9,0/ 10
2. Cisne Negro (Black Swan, 2010)
A viagem alucinógena pela mente perturbada da devotada e reprimida bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) é um dos filmes mais comentados, elogiados e detalhados em todos seus complexos detalhes psicológicos dos últimos cinco anos do cinema americano. O controverso diretor Darren Aronofsky cria um universo de sofrimento físico e psicológico ao mergulhar numa busca irracional e violenta pela perfeição por parte da pobre Nina, que é levada aos seus limites físicos e mentais por um caminho de confrontação direta com seus desejos reprimidos, seus anseios e toda a pressão que a cerca por todos os lados. Tecnicamente perfeito, muito me agrada o tratamento que é dado ao balé por parte do filme. Esporte de sangue, dor e suor disfarçado por uma máscara de beleza e suavidade. Mas, como disse, tudo são máscaras e Aronofsky gosta de arrancá-las. Atuação visceral e inesquecível de Natalie Portman consegue ser o ponto de alto de algo que já é por si só excepcional.
Nota:9,5/ 10
3. Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008)
O segundo filme da trilogia Batman de Christopher Nolan se consagrou como um dos melhores da década de 2000. Dando continuidade à luta de Batman/ Bruce Wayne (Bale) para resgatar Gotham do crime, o diretor nos apresenta um vilão sádico, genial e imprevisível: o Coringa (Ledger). Atuação excepcional e incrivelmente popular junto ao público que deixou no chinelo até mesmo o Coringa de Jack Nicholson (que riu quando o jovem Ledger morreu em 2008). A presença do vilão e a técnica usada por Nolan deixam o filme sombrio, sem esperanças e dotado de um magnetismo que prende o espectador do começo ao fim. Para mim é uma bênção um filme de ação ter tanto conteúdo, numa era em que o que mais importa são explosões e heróis de corpo definido.
Nota: 9,0/ 10
4. Tropa de Elite (2007)
Tema do texto mais lido de nosso blog, o filme mais pirateado da história do país se tornou conhecido pelo mundo, vencendo nada menos que o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Chega a ser desnecessário falar sobre o filme, o inesquecível capitão Nascimento (Wagner Moura), que tenta achar um substituto à sua altura ao mesmo tempo em que precisa pacificar favelas da zona oeste do Rio próximas à sede da diocese, por conta da visita do papa João Paulo II. Sete anos e infinitos bordões depois, o filme permanece na memória dos brasileiros, apesar de sua mensagem aparentemente não ter sido muito bem compreendida: sua principal crítica não é contra a violência das favelas, mas contra uma polícia autoritária, corrupta e o Estado que não combate a desigualdade social, raiz dos problemas.
Nota: 9,0/ 10
5. Sangue Negro (There will be blood, 2007)
Um filme excepcional em todos os sentidos. Estrelado por Daniel Day-Lewis, Sangue negro trata com muito realismo e objetividade sobre ambição a partir de Daniel Plainview(Day-Lewis), mineiro pobre que descobre no petróleo a possibilidade de obter o dinheiro e o poder que sempre quis ter. Para isso, inicialmente ele conta com nada além de suas próprias mãos e mente aguçada, construindo a cada palmo de terra cavado seu império e endurecendo seu coração. Não são poucos os desafios que ele enfrenta, entre eles o pastor de uma pequena cidade, Eli (Paul Dano), que mostra a influência que um líder religioso possui num lugarejo esquecido do deserto da Califórnia. A história forte e sólida escrita e dirigida por Paul Thomas Anderson ganha vida a partir da atuação marcante de Day-Lewis, responsável por seu segundo Oscar e sem dúvidas a melhor em muitos anos no cinema americano.
Nota: 9,5/ 10
6. Fale com ela (Hable con ella, 2002)
A história é simples: o repórter Marco (Grandinetti) se envolve com a promissora toureira Lydia (Flores), que ao sofrer um grave acidente entra em estado de coma profundo. Na clínica em que Lydia é internada Marco conhece o enfermeiro Benigno (Cámara), que é apaixonado por sua paciente Alicia. Os dois amigos se veem na mesma situação, buscando o amor de mulheres permanentemente inconscientes - o "fale com ela" do título é um conselho que Benigno dá ao repórter para que este tente diminuir sua dor. Almodóvar utiliza poesia e sutileza para contar essas tristes histórias que se encontram e são tão semelhantes, se afastando um pouco de seu estilo em que personagens femininas e homossexuais se destacam, dando lugar a dois protagonistas masculinos, e trocando a tradicional turbulência pela delicadeza da dança (inclusive as touradas são suavizadas e comparadas ao balé) e músicas bonitas e tristes, como Cucurrucucu paloma, interpretada por Caetano Veloso.
Nota: 10
7. De olhos bem fechados (Eyes wild shut, 1999)
Um médico bem sucedido cujo nome era conhecido pela alta sociedade nova-iorquina (Tom Cruise), casado com uma bela mulher (Nicole Kidman) e pai de uma adorável criança acreditava ter uma vida perfeita. Gostava de ter tudo sob seu controle e acabava menosprezando sua esposa dentro da relação, até o dia em que ela confessa que fantasiou com um oficial da marinha que passou por ela em um hotel. Perturbado pela revelação da esposa, ele parte em busca de aventuras sexuais, sem imaginar a dimensão das consequências de seus atos. Uma aventura que divide o espectador entre o que é real e o que onírico, mas com um final sólido e esperançoso. Um filme que é um dos melhores trabalhos de direção de Kubrick e que quanto mais eu penso sobre, mais fascinado fico. De gravações demoradas e intenso trabalho de edição e pós-produção, De olhos bem fechados foi o último filme do diretor, que faleceu alguns dias depois de mostrar o resultado final aos executivos da Warner, há exatos 15 anos.
Nota: 10
8. Touro indomável (Raging bull, 1980)
Quanto mais eu penso nesse filme, mais eu gosto dele e preciso me segurar pra não revê-lo. De um dos piores momentos da vida do diretor Martin Scorsese saiu seu melhor trabalho de direção, que aliado ao desempenho colossal de Robert De Niro concebeu uma trágica poesia sobre um lutador que tinha dentro de si seu pior inimigo. O talento de Jake LaMotta (De Niro) fez sua carreira ascender como um meteoro, mas seu ego, ciúme e outros demônios pessoais o fizeram cair com a mesma intensidade da subida. Trilha sonora impecável, fotografia em preto e branco deslumbrante e sequências em câmera lenta são alguns dos muitos detalhes que fazem de Touro indomável um filme que vai muito além do boxe e é extremamente competente naquilo que se propõe tratar.
Nota: 10
9. Manhattan (1979)
Numa época em que cineastas mostravam os subúrbios e a imundície social de Nova York, sendo Scorsese e seu Taxi driver o melhor exemplo, Woody Allen realiza seu maior tributo à cidade em que nasceu, viveu, realizou boa parte de sua obra e pela qual é apaixonado. Manhattan mostra a Big apple através de um preto e branco que a romantiza, embalado pelo jazz constante na filmografia de Woody. Na trama, o diretor mais uma vez vive o protagonista, que aqui é um roteirista de um programa de televisão que se demite por odiar o emprego e a má qualidade da programação e sua relação com a namorada de dezessete anos, a ex-mulher que o largou para morar com outra mulher e a amante, uma jornalista pedante. E claro, a cidade, que além de cenário é quase uma personagem e fonte constante de inspiração para a personagem de Woody - "ele adorava Nova York. Ele a idolatrava". Da mesma forma, é difícil não adorar essa encantadora história.
Nota: 10
10. Annie Hall (1977)
Seems like old times... being here with you. A música cantada por Diane Keaton duas vezes no filme transmite muito sobre o relacionamento no qual Annie Hall é centrado. Keaton é Annie, descontraída, sem rumos traçados pra sua vida, vive fazendo bicos como fotógrafa e cantora em bares, que conhece o comediante Alvy Singer (Woody Allen), um nova-iorquino judeu neurótico, metódico, meio hipocondríaco e chato, apesar de carismático. Os dois se apaixonam e engatam um namoro que logo no início do filme sabemos que não dá certo. Woody Allen conta a história do casal de forma inovadora, alternando momentos do início da relação com momentos de crise ou do cotidiano deles enquanto viviam juntos - fora muitas outras inovações que deram novo fôlego ao gênero da comédia romântica e o Oscar de direção para Woody. É quase uma unanimidade de que este é o melhor filme do diretor, que aqui traçou o esboço de muitos de seus filmes subsequentes, e diferente dos anteriores que eram mais próximos à comédia pastelão; e não é difícil ver que Annie Hall supera até mesmo outros grandes filmes como Manhattan e Hannah e suas irmãs. A naturalidade com que tudo é passado ao espectador e o tema do longa - afinal, Annie é antes de tudo um filme sobre o amor - fazem dele uma fonte inesgotável de satisfação, tornando impossível querer ver uma só vez.
Nota: 10
11. 2001: uma odisseia no espaço (2001: a space odissey, 1968)
Depois da sequência de Lolita (1962) e Dr. Fantástico (1964), o público sabia que deveria esperar por mais um filme de Kubrick. E o que veio foi muito além das expectativas de qualquer um. 2001 foi concebido por Kubrick para ser mais uma sensação do que uma história. O diretor queria fazer um filme de ficção científica ambientado no espaço, e para isso olhou primeiro para o passado, milhões de anos atrás, na aurora da humanidade, para depois dar um salto até a era das viagens cósmicas. E com muita subjetividade e efeitos visuais impensáveis até então, que lhe renderam seu único Oscar, ele nos leva a uma viagem capaz de representar o desejo humano de conhecer o que há para dentro e para fora daquilo de nós mesmos que é conhecido. Mais que revolucionar a ficção científica, Kubrick mostra que não há limites para o cinema, para a imaginação e o talento de um artista.
Nota: 10
12. O demônio das onze horas (Pierrot le fou, 1965)
Dentre os poucos filmes de Godard que já vi, talvez Pierrot le fou seja o mais complexo, mas é de longe o que eu mais gosto. A história se desenvolve a partir da fuga de Ferdinand (Belmondo), um professor universitário que deixa pra trás a vida burguesa para cair na estrada com sua amante Marianne (Anna Karina). Se a Nouvelle vague queria quebrar princípios e reinventar o cinema, é só ver Pierrot para saber que eles conseguiram. A linearidade da história, marcada pela narração dos protagonistas, que se revezam  nos contando seus fatos e pensamentos, é quebrada várias vezes. Como bom filme de estrada, o que não falta aqui é filosofia e interrogações, até porque Godard mantém o padrão de diálogos que mais parecem interrogatórios. O casal de fugitivos é feliz? O que eles esperam do futuro? Afinal, Marianne corresponde aos sentimentos de Ferdinand? E mesmo sendo tantas as perguntas, as deixamos de lado porque parece que eles querem apenas seguir em frente, vendo beleza onde ninguém mais vê e estando lado a lado na jornada.
Obs: o título brasileiro não é mais uma viagem dos tradutores; é o nome do livro no qual se baseia o filme.
 Nota: 10
13. Lolita (1962)
Há quem diga que Lolita é o primeiro filme realmente 'de Kubrick', pois é o primeiro que dá pra saber que nenhum outro diretor filmaria. Afinal, haja ousadia para adaptar a polêmica obra de Vladimir Nabovok, que fora censurada em vários países quando lançada. Lolita acompanha o professor universitário Humbert Humbert (James Mason) e seu desejo doentio por uma adolescente de catorze anos, Lolita, que o levou a se casar com a mãe desta só para se aproximar dela. Com olhares furtivos e escrevendo em seu diário, Humbert guarda para si a obsessão pela menina, enquanto a mãe se atira sobre ele sem algum pudor. Reviravoltas no filme parecem contribuir para o sucesso,de suas intenções, mas outras reviravoltas deixam a história ainda mais interessante, e surpreendentemente fresca mesmo cinquenta e poucos anos depois de seu lançamento.
Nota: 10
14. Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958)
Eleito há dois anos o melhor filme de todos os tempos e tirando Cidadão Kane de um lugar que ocupava há 50 anos, Um corpo que cai não foi bem recebido por público e crítica na época de seu lançamento, e só vinte anos depois passou a ser visto como uma das obras-primas de Alfred Hitchcock; francamente, não vejo o porquê de tal rejeição inicial. O filme tem uma das melhores reviravoltas do cinema, e aparenta não ter só um clímax, e sim um clímax principal que sucede e precede outros dois secundários. Na trama, James Stewart, que foi um dos mais frequentes parceiros de Hitchcock, interpreta um detetive que investiga a esposa de um antigo colega que aparentemente está possuída pelo espírito da bisavó. O filme é marcado pelo medo de altura da personagem de Stewart, que num acidente no alto de um prédio viu um colega da polícia morrer ao cair do telhado. Um suspense complexo e muito bem elaborado que envolve o espectador como poucos.
Nota: 10
15. Casablanca (1942)
You must remember this... e quem conseguiria esquecer? Uma das histórias de amor mais conhecidas de todo o cinema, ambientada no Marrocos em meio à Segunda Guerra Mundial , é um misto de paixão, ciúme, ressentimento e saudades de uma época em que nem mesmo o Exército alemão parecia ser capaz de separar um casal feliz, Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman). O reencontro desse casal em Casablanca, anos depois, ocorre em meio a uma situação perigosa: um líder da Resistência francesa que tem a chance de fugir do alcance do Reich - mas que é o marido de Ilsa, e o detentor dessa chance acaba sendo Rick. Surgem as dúvidas: até que ponto as lembranças e o ressentimento influenciariam a decisão de Rick? Ainda havia amor? Ótimo roteiro cheio de diálogos afiados e pequenas piadas, elenco perfeito, história envolvente e uma das músicas mais conhecidas de todo o cinema são os ingredientes para uma obra que atravessa décadas incólume e segue conquistando fãs.
Nota: 10

Luís F. Passos

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