sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Suave é a noite - por trás da geração perdida

Depois de ler O Grande Gatsby, não quis acreditar que desse livro viesse todo reconhecido talento do americano Scott Fitzgerald.  E ainda bem que não acreditei, caso contrário não sei quanto tempo levaria para resolver ler Suave é a Noite, que por muitos, é considerada a verdadeira obra prima do autor.
Trata-se, na verdade, de um romance predominantemente psicológico, no qual se disseca a vida do casal Diver, debridando cada camada até a raiz de sua relação interpessoal e consigo mesmos. Tudo isso ambientado na inebriante atmosfera da Era do Jazz (a mesma do filme Meia-noite em Paris). Trata-se ainda de um romance autobiográfico. Refletidos nos protagonistas, temos o próprio Fitzgerald, sua esposa Zelda e seus conflitos. É sabido do problema de Scott com o álcool, da instabilidade de sua conjugue, dos amantes de ambas as partes, das festas sem fim que regiam suas vidas, os inúmeros amigos de quem viviam cercados, nada disso fica de fora.
É muito interessante ver a evolução do casal, desde a paixão inicial à farsa que se torna. Corrompido pelas diferentes perspectivas, pela exaustão emocional, pela conturbada relação de poder e dinheiro, pelas diferentes influências que sofrem da vida. Acompanharemos seu apogeu e decadência, tal qual em O Grande Gatsby: do começo da festa quando a música toca, ao final, quando se apagam as luzes e não resta mais ninguém.
“Era uma sensação triste e solitária aquela de terem o coração tão vazio em relação um ao outro.”
E esse texto é menos uma resenha que um comentário. Afinal, optei por não antecipar nada da história. Li alguns textos e comentários em outros blogs e redes sociais e percebi que não foi um livro bem aceito por muitos, considerado “monótono” inclusive. A verdade é que por seu caráter psicológico, seu sucesso não está no enredo, mas nas sensações que desperta. Para tal, é preciso sincronizar-se com ele, usar toda sua empatia para com cada personagem, questionar seus questionamentos, sofrer seus dramas. Não saber o enredo ajuda nessa tarefa. Quando não se espera nada, tudo o que acontece é uma surpresa.
A minha impressão sobre Fitzgerald mudou completamente após essa leitura. Percebi nele um grande entendedor não só de sua época, mas da alma humana em seu sentido mais universal, com análises minuciosas, perspicazes de comportamentos e sentimentos alheios. De acordo com a opinião de Huxley, na arte há simplicidades mais difíceis do que as mais cerradas complicações. Para mim, o grande mérito de Scott foi justamente o de transformar uma história tão simples, em algo tão elevado.
Nota: 10

Marcelle Freire

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