terça-feira, 10 de setembro de 2013

Barbarella – um mix dos anos 60

 Filme que eternizou Jane Fonda como sex symbol e ajudou a alavancar sua carreira já relativamente estável (que já se iniciou relativamente estável pelo simples fato de ser filha de Henry Fonda), Barbarella (1968) é uma grande reunião de muito do que ocorria na esfera cultural e social no mundo nos últimos anos da década de 60.
Navegante espacial, a sexy Barbarella é recrutada pelo presidente da República da Terra para caçar e trazer de volta um louco cientista, chamado Duran Duran, há muito tempo perdido pelos confins do universo, que é um homem perigoso que desenvolveu uma arma letal. Afinal, tratando-se do futuro fictício em que a história se desenvolve, a violência já estava abolida há séculos da civilização terráquea – bem utópica essa ideia, não?
Barbarella sai em sua busca e no meio do caminho encontra com vários tipos estranhos. Alguns dispostos a ajudar, como o anjo Pygar, e outros no maior estilo tradicional de vilão, como a Grande Tirana, governante do perdido planeta em que Barbarella é levada em sua busca por Duran Duran. Um planeta que segue regras e costumes estranhos e malignos, sendo regido pelo chamado mathmos. O mathmos é uma substância líquida composta de energia vital que se alimenta de pensamentos negativos. Em termos terráqueos, o mathmos representaria a materialização do que conhecemos como “mal” – que viagem.
O enredo plenamente fantasioso de Barbarella deixa brecha para que o filme transcorra metaforicamente sobre muitos pontos culturais dos anos 60. O primeiro deles diz respeito à própria protagonista. Afinal, a simples escolha de uma mulher para liderar uma ficção científica que denota muita coragem, liderança e determinação de sua protagonista é uma forma muito direta de mostrar todo o poder da onda feminista vigente na época, sobretudo pela escalação de Jane Fonda como protagonista. Jane, como muitos sabem, foi e ainda é uma grande defensora dos diretos humanos, atuando avidamente em prol da igualdade entre os sexos, as raças, as diferentes crenças religiosas e as diferentes opções sexuais (uma grande mulher).
Outro aspecto patente é o da sexualidade. É um filme muito sexualizado. A figura de Barbarella com seus figurinos ousados e muito rebeldes para a época tornam este um filme propositalmente erotizado. A forma de retratar o sexo e de falar sobre o tema já se mostra diferente. Nada de tabu, uma proposta a maior liberdade sexual e uma participação ativa das mulheres neste aspecto, visto que o cinema clássico as mostrava muito passivas neste sentido. Não só o sexo é preconizado em Barbarella, como também o amor. O amor pelo próximo, pela vida, pelo corpo e pela paz de espírito. De uma forma divertida, é como se tivessem transportado a filosofia de Woodstock (inclui algumas insinuações a uso de drogas) para a nave cor-de-rosa com paredes internas revestidas de pele em que a heroína viaja pelas galáxias.
O fato de ela ser uma viajante espacial também pode ser diretamente interligado ao contexto histórico da época. Em tempos de corrida espacial, o homem voltava seus olhos para o espaço. Uma nova fronteira havia sido determinada e um novo foco para o cinema estava sendo traçado.
Isso é Barbarella. Não é um filme fantástico, mas é uma obra consideravelmente curiosa que abre espaço para uma boa contextualização de uma época muito particular de efervescência no mundo. Pop, divertido, sensual, ousado, moderno e corajoso. Além de tudo isso, ainda conta com uma Jane Fonda no auge de sua beleza e abre o caminho para uma sequência invejável de grandes trabalhos da atriz, que incluem filmes sérios como A noite dos desesperados, Klute – o passado condena e Amargo regresso. Cinéfilos, podem ver sem medo. Barbarella psicodélica sabe deixar sua marca. 

Nota: 7/10

Lucas Moura

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