sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Filmes pro final de semana - 30/08

1. Muita calma nessa hora (2010)
Três amigas cariocas estão num momento tenso de suas vidas. Tita (Andréia Horta) flagrou o noivo com outra e passou a se lamentar por ter gasto toda sua adolescência e idade adulta até então num relacionamento fracassado; Mari (Gianni Albertoni) está cheia de seu chefe tarado e da fama de pegadora, e quer esquecer que os homens existem; e Aninha (Fernanda Souza) se sente perdida no mundo, já que nunca consegue escolher algo, e já trancou a faculdade várias vezes. Para relaxar, as três vão passar um feriado em Búzios, onde conhecerão um argentino de araque dono de uma creperia (Nelson Freitas), um(a) tequileiro(a) muito louco(a) (Luis Miranda), uma hippie que sonha conhecer o pai (Débora Lamm), um chicleteiro sem noção (Lúcio Mauro Filho) e uma trupe de beberrões que não pega ninguém. Comédia engraçadíssima com seu tanto de beleza e surpreendentemente nada abusiva. Digo isso porque em tempos de Bruno Mazzeo, qualquer comédia de qualidade é lucro.
Nota: 7,5/ 10
 2. O voo (Flight, 2012)
A volta triunfante do diretor Robert Zemeckis (Forrest Gump) deu-se no início deste ano com o thriller empolgante sobre um piloto de aviões que oscila entre herói por ter evitado uma grande catástrofe aérea e vilão, pela acusação de ter sido o culpado pelo acidente por estar bêbado enquanto pilotava. A questão é que ele não estava simplesmente bêbado, mas sim que ele é um alcoólatra convicto. O filme que se inicia extremamente intenso com a queda do avião começa a passear por águas mais calmas, retratando o cotidiano do vício do protagonista, interpretação de Denzel Washington indicada ao Oscar, analisando todo seu passado e propondo perspectivas a seu futuro. Nota: 8.5/10


3. O profissional (Leon, 1994)
A violenta jornada da jovem Mathilda (Natalie Portman) na companhia de seu amigo (?) Leon (Jean Reno), um assassino profissional, em busca de uma vingança quase impossível contra a polícia corrupta que matou toda sua família pontua um dos filmes mais interessantes dos anos 90. Intenso do começo ao fim, O profissional representa um filme de ação de qualidade, com algumas doses esporádicas de drama, que inclui um relacionamento incomum entre as personagens e culmina com uma conclusão épica. Também marcante por ser a estreia de Natalie Portman nos cinemas, numa personagem juvenil que disputa com a Iris de Jodie Foster em Taxi Driver pelo posto de mais complexa. Altamente recomendável. Nota: 10


4. Amor sem escalas (Up in the air, 2009)
 Ryan (George Clooney) é um profissional de uma empresa que é contratada por outras empresas para demitir seus empregados. Todos os dias ele fica de frente a dezenas de pessoas que nunca viu na vida e diz "seus serviços não são mais necessários". E de um trabalho para outro, Ryan viaja de avião, seu maior prazer. A cada ano ele passa quase trezentos dias fora de casa - aliás, é realmente sua casa? Para ele, seu lar são os aeroportos, as salas de espera, as confortáveis poltronas executivas da American Airlines. Tudo na vida de Ryan é emprego, voo, e a meta de acumular dez milhões de milhas aéreas. Para mudar isso, surge o casamento de sua irmã caçula e uma nova colega de trabalho que tem ideias que podem mudar radicalmente seu estilo de vida. Uma ótima reflexão sobre a vida que cada um quer levar e sobre a crise econômica de 2008/09.
Nota: 9,5 / 10
5. O desprezo (Le mépris, 1963)
Para o público mais exigente, a dica é um dos melhores filmes de Godard, e de todos os tempos. O desprezo acompanha a ruína de um casamento a partir de um ato repugnante do marido Paul (Michel Picoli) em relação à sua bela esposa Camille (Brigitte Bardot). Paul, que é convidado a escrever o roteiro de um filme de Fritz Lang, faz vista grossa às investidas do chefe, o produtor Jeremy (Jack Palance) sobre sua esposa - e quando ela percebe, passa a desprezá-lo. Enredo interessante, diálogos tensos e imagens deslumbrantes são alguns dos ingredientes que fazem deste um clássico universal.
Nota: 10

Leia também: O desprezo

Lucas Moura e Luís F. Passos

sábado, 24 de agosto de 2013

A menina que roubava livros - futuro clássico

Tem livros que pegam a gente de jeito, num forte impacto. Alguns pela beleza, outros pela acidez, outros pela violência. Independente do gênero, muitos livros têm a capacidade de prender o leitor durante o tempo de leitura e de ficar em sua mente enquanto não está lendo ou depois que a leitura é finalizada. Não sei se tenho a sorte de encontrar livros assim ou se sou facilmente conquistado, mas o fato é que já me deparei com muitos dotados de tal habilidade (livros ou autores de tal habilidade?). Dentre eles, um no qual eu penso com especial carinho é A menina que roubava livros, futuro clássico da literatura internacional - digo isso baseado em alguns motivos que listarei abaixo, entre eles a impressionante popularidade alcançada, demonstrada nas muitas semanas consecutivas em que ficou nas listas de mais vendidos; aqui no Brasil foram quase dois anos entre os maiores sucessos de venda.
Se há pessoas que compram livros pela capa - e sim, há muitas - A menina que roubava livros já leva uma boa vantagem sobre seus concorrentes. Como não gostar da capa em que uma figura sob um guarda-chuva caminha na neve, e da contra-capa com a frase "Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler"? Muito bacana. E sim, essa é uma história contada pela Morte. A dama mais temida pelos homens é a narradora que nos conduz através das mais de quatrocentas e cinquenta páginas da história de uma menina alemã que, assim como milhões de outras, teve a infelicidade de viver durante o regime nazista e a 2ª Guerra Mundial, e foi nessa época que teve dois dos três encontros com a narradora de sua vida. Seu nome, Liesel Meminger. No início do livros conhecemos a menina, seu irmão e sua mãe, que são toda a sua família; e se já não parece muita coisa, mal começa  a descrição deles e é revelado que seu irmão está morto. A mãe então a deixa com um pobre casal da cidade de Molching, próximo a Munique. Rosa e Hans Hubermann são, respectivamente, dona de casa e pintor de paredes, e Rosa lava roupa para fora para ajudar na renda doméstica. Aparentemente, têm comportamento muito diferente; enquanto Hans fala baixo, é gentil e evita confusões, Rosa vive gritando, tem a boca cheia de palavras começadas por saus (porco em alemão, e nenhuma delas quer dizer boa coisa) e é adepta da boa e velha palmada - na verdade, vale qualquer coisa que estiver ao alcance de sua mão.
Liesel logo vai se acostumando à vida em Molching, aos vizinhos, especialmente o pequeno Rudy Steiner, que apesar das típicas diferenças entre meninos e meninas se torna seu melhor amigo, e às atividades da Juventude Hitlerista, à qual a menina tem de se unir. E em meio a suas atividades, brincadeiras e ajuda que prestava à mãe adotiva com as entregas, Liesel se dedica a uma paixão: livros. Mas uma menina pobre, que chegara à Molching analfabeta, obviamente não os tinha. Acontece que no enterro de seu irmão a pequena vira que o coveiro deixara cair um pequeno livro chamado O manual do coveiro e discretamente o pegou e guardou para si. O segundo, meses depois, fora tirado de uma enorme fogueira ("alemães adoram fogueiras!") em que os nazistas queimaram livros considerados perigosos. Ao longo da história, outros exemplares se somam à pequena coleção de Liesel, assim como acontecimentos interessantes vão lhe acontecendo. A chegada de um inesperado amigo e suas consequências, além de todas as experiências que uma guerra e o furto de livros pode proporcionar. Fui vago? Talvez. Me defendo com o argumento de que já faz cinco anos que li A menina que roubava livros (The book thief, 2005) e não tive a oportunidade de relê-lo - mas assim que o filme sair, estarei no cinema. Lembro que na época o livro já era um enorme sucesso, e que estava na lista de livros mais vendidos há dezenas de semanas, e sempre entre os cinco primeiros. Não é difícil ver o motivo. Markus Zusak, escritor australiano que eu admiro muito, é um exímio narrador, dono de um texto muito fluido e que atrai como poucos o leitor. Ele sabe dosar muito bem humor e momentos tristes no enredo comovente que, apesar de ser ambientado na 2ª Guerra, não é nem um pouco clichê ou apelativo. A emoção aqui é pura como a criança que temos como protagonista. E por falar em apelativo, me perdoem os fãs de O menino do pijama listrado, mas esse aqui dá uma surra no livro de John Boyne.

Nota: 10

Leia também:
A cidade do sol
Eu sou o mensageiro

Luís F. Passos

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Top 30: filmes preferidos - Lucas (3)

10. Os bons companheiros (Goodfellas, 1990)
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Ray Liotta, Joe Pesci, Paul Sorvino e Lorraine Bracco
A escória da máfia. Ao mundo que antes havia idolatrado o alto escalão dos mafiosos ítalo-americanos apresentados pela trilogia de Coppola, Scorsese nos mostra o baixo escalão desta mesma instituição, dando um novo ponto de vista de algo já muito familiar. Os bons companheiros desenvolve-se na relação entre Henry Hill (Ray Liotta) e sua vida na máfia. Uma vida toda preparada para fazer parte disto, algo que sempre foi julgado como algo maior. No meio da confusão e da pobreza dos bairros suburbanos violentos, ser da máfia representava ser alguém. Scorsese desenvolve desta forma, a ascensão de Henry para a máfia e como ele construiu destruir-se totalmente uma vez tendo abusado de todos os privilégios e riqueza que lhe beneficiaram e ultrapassado qualquer limite e senso de moralidade. Violento do começo ao fim, Os bons companheiros é ironicamente cômico. Situações absurdas acontecem o tempo todo e risos são inevitáveis. O desenrolar da trama segue uma sequência não muito imprevisível, mas muito interessante de ser acompanhada. Representa, também, a terceira derrota mais amarga de Scorsese ao Oscar de direção. Afinal, temos aqui o terceiro melhor filme do diretor, perdendo apenas para Taxi Driver e Touro indomável.


9. Psicose (Psycho, 1960)
Direção: Alfred Hitchcock
Com: Anthony Perkins, Janet Leigh,
O filme mais reconhecido de Alfred Hitchcock. Apesar de Um corpo que cai ter sido escolhido ano passado como o melhor filme de todos os tempos pela revista Sight and sound, Psicose é o trabalho mais popular e perturbador do diretor. Hitchcock se dispôs a assumir um risco pessoal altíssimo ao decidir trabalhar com uma história tão sórdida, violenta e desagradável quanto à de Psicose. Afinal, nunca antes na história do cinema um monstro era alguém de carne osso, um ser humano aparentemente comum e normal que sai de sua banalidade e se transforma no maior psicopata da história do cinema. O choque das plateias de 1960 era algo inevitável, mas dificilmente foi imaginado que o filme tomaria a proporção que adquiriu. Enredo inovador, temática assustadora, técnica perfeita. Estas são as três principais marcas de Psicose. A cena do chuveiro é um ícone. A trilha sonora, inesquecível. Matar a protagonista antes da metade do filme? Pura ousadia. E as reviravoltas? Uma melhor que a outra, mais intensa que a anterior. Ainda se dispõe a análise da mente perturbada do assassino, a qual não é totalmente elucidada, permanecendo, assim um ar de mistério que é muito importante para manter o clima do filme. Norman Bates virou uma lenda e o momento mais arriscado da carreira de Hitchcock tornou-se sua maior consagração. Filme indispensável.

8. Persona (1966)
Direção: Ingmar Bergman
Com: Bibi Andersson, Liv Ullman
Uma experiência cinematográfica sem igual, Persona é, para mim, o melhor trabalho de Ingmar Bergman e o melhor filme europeu. Em pouco mais de 90 minutos, Bergman nos mostra quase totalmente através de imagens a complexa relação entre duas personagens, uma enfermeira e uma paciente, que num curto espaço de tempo criam uma forte conexão e passam por um processo simbiótico de personalidades, onde é impossível determinar onde a mente de uma começa e a da outra termina. A noção de individualidade é totalmente perdida e o que vemos é, literalmente (quem viu sabe o porquê do literalmente) a fusão de duas pessoas. Conforme o filme avança, as duas mulheres vão se despindo de todos os artifícios sociais e vão mostrando todos seus defeitos, medos, arrependimentos. A máscara, a persona, que usam cai e só sobram a verdadeira Alma (a enfermeira, interpretada por Bibi Anderson) e Elisabeth Vogler (a paciente, uma atriz vivida por Liv Ullman). Com sua temática complexa e psicológica, Persona não se importa muito com se fazer entender. O prólogo inicial são apenas imagens aparentemente desconexas que o próprio diretor chamou de “poema visual”. O visual é o forte de Persona. A fotografia é a alma do filme. Não se importe em entender absolutamente tudo que está se passando, apenas aproveite o que pode ser absorvido e questione-se pelo que não é totalmente elucidado.

7. O poderoso chefão, pt 2 (The Godfather II, 1974)
Direção: Francis Ford Coppola
Com: Al Pacino, Robert De Niro, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire, John Cazale e Lee Strasberg.
Raramente uma continuação é boa. Mais raramente ainda uma continuação consegue ser tão boa quanto, para alguns até melhor, que seu filme de origem. O exemplo maior desta raridade é O poderoso chefão pt 2, que consegue se igualar ao primeiro capítulo da trilogia e, em alguns aspectos, até superá-lo. É de fato conhecido que em O poderoso chefão pt 2 Coppola conseguiu ter uma liberdade de criação bem maior que no primeiro filme, o que facilitou o processo e tornou o filme ainda mais pessoal. Neste capítulo, já temos Michael Corleone (Al Pacino) definido em sua posição de chefe da máfia e da família Corleone. Então, vamos acompanhar sua trajetória, passando também por contextos históricos que servem como um interessante acessório para a narrativa.  A personagem de Michael vai se transformando ao longo do filme, mostrando novas faces que não haviam sido apresentadas no filme anterior. Aqui também é mostrada a juventude de Don Vito, desde sua saída da vida de pobreza na Itália a sua estabilização na sociedade ítalo-americana dos bairros suburbanos de Nova York. A cargo da caracterização da juventude de uma personagem já imortalizada pelo trabalho de Marlon Brando, está Robert De Niro, no primeiro dos maiores trabalhos de sua carreira.

6. O poderoso chefão (The Godfather, 1972)
Direção: Frances Ford Coppola
Com: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, John Cazale
O primeiro capítulo da trilogia de mafiosos é um filme inesquecível. Mais que tecnicamente falando, é um dos filmes mais estilosos que existe. Aqui nos é apresentada a família Corleone, liderada pelo Don Vito (Marlon Brando), uma das principais famílias de mafiosos da cidade de Nova York, homens tão charmosos quanto perigosos, capazes de fazer tudo para cuidar de seus protegidos, mas que também não demonstram qualquer tipo de piedade em destruir inimigos. O filme apresenta traços de cinema noir e de drama, tendo este um centro muito fundamentado na própria relação familiar estranhamente próxima em que a família é mostrada como o bem maior que se pode ter como também pela dualidade entre Don Vito e seu filho Michael (Al Pacino), que num primeiro momento não se apresenta adequado a ocupar a posição do pai, mas que, aos poucos, vai se transformando. A interpretação de Marlon Brando é icônica e Al Pacino mostrou-se um dos maiores atores do cinema americano do dia para a noite. A mágica de assistir O poderoso chefão permanece inabalável já há mais de 40 anos. Assisti-lo ainda é uma oferta irrecusável.

5. Chinatown (1974)
Direção: Roman Polanski
Com: Jack Nicholson, Faye Dunaway, Diane Ladd, Roman Polanski, John Houston
Dentre os filmes do meu top 10, provavelmente Chinatown é o menos cultuado e simplesmente não sei por quê. Afinal, temos aqui um dos maiores filmes dos anos 70 e isto não é pouca coisa. A maior obra-prima de Polanski (sim, estou colocando-o acima de Repulsa ao sexo e O bebê de Rosemary) é uma repaginada no gênero antigo do cinema noir. O cinema noir, basicamente falando, é um estilo imortalizado pela figura de um investigador que se envolve em algum crime, geralmente relacionado a uma femme fatale, e conforme a história se desenvolve vamos tendo noção da profundidade dos problemas, da tortuosidade das tramas e de que as aparências, como sempre, enganam. Esta definição simples pode muito bem ser aplicada ao cerne de Chinatown, mas o filme vai muito além. O detetive J. J. Guittes de Jack Nicholson é contratado por uma rica femme fatale para investigar uma suspeita de adultério por parte de seu marido. Um caso aparentemente fácil de resolver acaba transformando-se numa história de grande abrangência, com incontáveis reviravoltas capazes de intrigar o espectador do começo ao fim do filme. Grande parte dos mistérios envolve a Sra. Murray (Faye Dunaway), uma mulher misteriosa e extremamente sensual, que guarda segredos inimagináveis que realmente chocam nossa mente ingênua de simples observador. A sujeira, a podridão e a amoralidade que cercam as personagens de Chinatown convergem todas para um legítimo gran finale, que se passa justamente no bairro chinês de mesmo nome. Um bairro que assombra Guittes desde seus tempos como policial da Polícia de Los Angeles e que remete a mais pura incapacidade. Um lugar onde nem tudo é o que realmente aparenta ser e onde tudo foge de nosso controle, sendo sintetizado por uma frase curta e grossa: “Esqueça, Jake. É Chinatown”. O maior problema de Chinatown é ter caído justamente no mesmo ano de O Poderoso chefão pt2. Desta forma, foi massacrado no Oscar e deixado quase em segundo plano. Mesmo assim, ainda arrebatou o prêmio de melhor roteiro e, para os bons fãs de cinema, é uma oferta tão irrecusável quanto.

4. Taxi driver (1976)
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepperd, Harvey Keitel
Se Woody Allen romantiza a cidade de Nova York em seus filmes, Scorsese está mais que satisfeito em mostrá-la como o retrato de toda a imundície humana. E assim o faz. Nos diversos retratos da cidade que aparecem em seu filme, nenhum se compara ao mostrado em Taxi driver. Aqui, a cidade é mostrada como um verdadeiro inferno de ruas lotadas de marginais, viciados, criminosos e prostitutas que vagam na noite como zumbis sem qualquer tipo de propósito. Uma cidade dominada pela mais pura sujeira moral, uma imundície que só uma chuva de verdade poderia varrer das ruas. É nesse cenário que fervilha a mente instável de Travis Brickle (Robert De Niro), mergulhada em insônia, solidão e obsessão. Travis é a representação mais clássica possível de um anti-herói. Uma protagonista que simplesmente não conhece ou impõe qualquer tipo de valor moral e funciona exclusivamente em função de seus desejos obscuros. Sua maior ambição: transformar a cidade. Limpá-la, melhor dizendo. Para isso, tenta de diversas formas interagir com a sociedade que uma vez o isolou. Estas tentativas são as mais infrutíferas possíveis, tratando-se de alguém que pouco sabe de qualquer tipo de interação social e, conforme a história vai avançando, Travis vai se transformando. Neste caminho, envolve-se com uma bela funcionária de campanha política (Cybill Shepperd) e uma jovem prostituta que não quer ser salva (Jodie Foster), os grandes alvos de sua loucura e obsessão. O final, um dos melhores do cinema, ainda reserva um bom questionamento: quais são os limites entre o herói e o vilão? A resposta cabe a cada um.


3. Touro indomável (Raging Bull, 1980)
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Cathy Moriarty, Joe Pesci
De todos os muitos – muitos mesmo – filmes americanos que abordam o boxe como plano de fundo ou até mesmo personagem, Touro indomável de Scorsese é de longe o melhor. Sua beleza estética e sua perfeição técnica o elevam da categoria dos filmes “comuns” e o colocam na posição dos maiores clássicos do cinema mundial. Já se passaram três décadas e a qualidade artística de Touro indomável não diminui nem um pouco. Numa era em que os protagonistas eram simbolizados pela figura do anti-herói, Scorsese brinda o cinema com um dos maiores destes. Um homem agressivo e violento que não consegue exprimir suas emoções e suas insatisfações através de palavras, usando, para tal, os próprios punhos. O filme acompanha a vida do boxeador Jake La Mota (Robert De Niro), sua escalada para o sucesso e seu declínio para o fracasso, numa descida pontuada por erros em simplesmente todas as áreas de sua vida, sem que em nenhum momento ele aprendesse com esses erros. La Mota não se torna uma pessoa melhor e o filme não caminha para um final feliz de qualquer maneira. Aliás, a obra poética de Scorsese tem um caráter praticamente documental. Afinal, Jake La Mota é uma figura lendária e real do mundo do boxe. O preto e branco da fotografia torna-o ainda mais interessante visualmente, e recursos como as mudanças de nuances na imagem conforme as circunstâncias vividas dentro dos ringues realmente ativam os sentidos. No auge de uma grande obra-prima, o melhor trabalho de um grande ator. Aqui De Niro desenvolve uma das melhores personagens masculinas da história do cinema. Uma interpretação vencedora do Oscar de melhor ator e que é categorizada por todos que já assistiram Touro indomável como uma das melhores de todos os tempos.


2. Apocalypse now (1979)
Direção: Francis Ford Coppola
Com: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall e Dennis Hooper
De todos os filmes americanos sobre guerras nenhum é tão forte e visceral quanto a obra-prima de Coppola, Apocalyse Now. Dentre a amplitude de filmes que retratam ou se baseiam na Guerra de Vietnã nenhum conseguiu captar a áurea quase mística de insanidade física e mental quanto este aqui. Apocalypse Now retrata não apenas os horrores da guerra, mas principalmente a forma como esta se manifesta na deterioração da alma do homem. Um estudo complexo sobre a forma como a mentalidade dos indivíduos definha em meio às manifestações do mais puro horror. O filme tem uma áurea quase mística e retrata a trágica e perigosa jornada de um soldado americano (Martin Sheen) pelo coração das trevas e pela alma da guerra, em caminhos e viagens longas e insuportáveis pela selva que nos mostra as diversas atrocidades cometidas neste tipo de situação. A viagem dos soldados tem um destino final. Seu objetivo é alcançar e deter um antigo oficial do exército americano que tornou-se líder de um culto secreto no meio da floresta. A interpretação deste líder é garantida pela presença marcante de um transformado e amedrontador Marlon Brando. Apocalypse Now foi realizado no fim dos anos 70, mantendo uma conexão direta com as características de choque e pessimismo tão vigentes no cinema da época. Sua derrota ao Oscar de melhor filme também pode ser percebida como um dos maiores indícios do declínio daquela geração cinematográfica, mas isso não tem grandes implicações. Afinal, temos aqui não apenas o melhor filme de guerra como também um dos maiores filmes da história. A quantidade técnica, de atuação, de direção e de roteiro são magnéticas e assistir Apocalyse Now é uma experiência cinematográfica o mais intenso o possível. Um filme que pode não agradar a todos, mas que é inegavelmente inesquecível.

1. Annie Hall (1977)
Direção: Woody Allen
Com: Diane Keaton, Woody Allen, Tony Roberts, Carol Kane e Shelley Duvall
Considero Annie Hall um dos filmes mais importantes de minha vida. Afinal, o vi pela primeira vez quando ainda começa a me interessar mais por cinema e tê-lo visto foi um fator decisivo para continuar me interessando cada vez mais por ele. Alem disso, trata-se do melhor e mais consistente filme de Woody Allen. A história simples sobre o amor e sobre a inexplicável importância que este possui na vida das pessoas tornou-se uma das comédias mais importantes da história do cinema americano, tendo sido responsável por uma verdadeira revolução na maneira de se fazer comédia romântica. O trabalho ácido, irônico e altamente romântico do comediante Woody Allen é uma grande declaração de amor, não apenas a sua companheira (na época eram apenas amigos) Diane Keaton – a qual baseou a personagem título – como também ao cinema, a cultura e a cidade de Nova York. Os elementos técnicos de Annie Hall também foram inovadores e recursos que viriam a se tornar comuns nas comédias românticas foram inicialmente implantados aqui.  Muitos fatores presentes em filmes modernos como por exemplo 500 dias com ela tem a assinatura inegável da influência de Annie Hall. Também funciona como uma análise comportamental do homem moderno e de todas as neuroses que vêm acompanhadas pelo complicado e tenso estilo de vida vigente. As interpretações de Woody Allen e Diane Keaton são muito divertidas de se assistir e a parceria dos dois, com certeza, é uma das melhores e mais produtivas do cinema. Particularmente, tenho um grande interesse particular por este filme, tanto que já o vi mais de 10 vezes. Deixo aqui, dentre estas 30 recomendações, uma dica especial com relação a ele. Garanto que o divertimento é inevitável.

sábado, 17 de agosto de 2013

Top 30: filmes preferidos - Lucas (2)


20. Fargo (1996)
Direção: Joel Coen
Com: Frances McDormand, William H. Macy, Steve Buscemi
Tudo pode acontecer no meio do nada. Meu filme preferido dos singulares irmãos Coen, Fargo nos traz uma tragicomédia que envolve sequestro, roubo, assassinato, medo, arrependimento, piadas, uma policial grávida e muitos, muitos erros. O subtítulo recebido em sua distribuição nacional, Uma comédia de erros, na verdade é bem conveniente. Um filme sobre erros que simplesmente acerta em tudo. Assistir Fargo é uma experiência divertida, sendo um prazer inestimável sentar e ver aquelas pessoas se destruindo pelas próprias bobagens que foram largando pela mais pura incompetência. Dentro de seu universo particular de filmes bizarros, Fargo pode até ser o que não bate mais nesta tecla, mas é de longe o trabalho mais sólido e mais competente dos irmãos Coen. Uma das coisas que mais gosto aqui é que toda a comédia, não são gags estúpidas, mas sequências de ironias e exageros tratadas como algo extremamente natural. Não se força a barra, tudo simplesmente flui. É como se dissessem: este aqui é nosso mundo, e no nosso mundo coisas assim acontecem a qualquer momento. A atuação de Frances McDormand é a cereja do bolo.
19. Os incompreendidos (Les 400 coups, 1959)
Direção: François Truffaut
Com: Jean-Pierre Léaud
Um divisor de águas. Se uma frase pudesse definir a importância de Os incompreendidos para o cinema mundial, esta frase seria muito bem aplicável. O trabalho de estréia do até então desconhecido François Truffaut iniciou o movimento eternizado como Nouvelle Vague francesa, movimento cinematográfico que pregava elementos como maior autonomia do diretor em detrimento aos estúdios, liberdade de expressão cinematográfica (que incluía perda de padrões técnicos e de atuação) e maior autoria das obras. Em Os incompreendidos, longa parcialmente biográfico, Truffaut analisa a figura rebelde do jovem Antoine Doinel, renegado pelos pais e por diversas instituições de controle social (apontadas como uma escola e um internato) cuja aversão às convenções sociais e a vida de solidão e descaso a que lhe foi imposta  o leva a vagar aleatoriamente pelas ruas de Paris praticando os mais diversos atos juvenis. Uma produção tão simples quanto abrangente em seu conteúdo, Os incompreendidos remete reflexões psicológicas e sociais sobre o estilo de vida do homem moderno (como moderno entenda-se os anos 60 – que não são assim tão diferentes dos dias de hoje). Além de tudo isso, é o primeiro capítulo da figura cinematográfica de Antoine Doinel, personagem recorrente na filmografia do diretor.

18. Manhattan (Manhattan, 1979)
Direção: Woody Allen
Com: Woody Allen, Diane Keaton, Mariel Hemingway, Meryl Streep
“Ele amava NY. Ele a idolatrava”. A maior canção de amor de Woody Allen àquela que foi palco de grande parte de sua obra, Manhattan é uma enorme homenagem ao estilo de vida, à beleza cinza, aos defeitos e as magias de uma cidade global que centraliza tantas histórias e que dá vida a muitas das personagens de sua vasta filmografia. Em Manhattan, Woody não nos poupa de mostrar imagens belíssimas da cidade, acompanhadas por baladas de jazz envolventes, fotografia em preto-e-branco muito bonita e cenas de romance, reflexão e, claro, o humor ácido que não poderia faltar. No filme, vive um homem dividido entre uma rival intelectual por quem se encontra estranhamente obcecado (mais uma parceria entre Woody Allen e Diane Keaton) e uma colegial, tão doce quanto jovem, que se mostra de uma maturidade emocional muito maior que a de seu companheiro quarentão. As reflexões clássicas sobre vida, morte e amor estão presentes, como não poderia faltar, mas Manhattan preza também a valorização das mais pequenas coisas, do contato, da intimidade e da alegria de estar com alguém. Romantismo puro. Difícil mesmo é não se apaixonar pelo filme.

17. Se meu apartamento falasse (The apartment, 1960)
Direção: Billy Wilder
Com: Jack Lemmon, Shirley MacLaine
Comédia de costumes é um de meus gêneros cinematográficos preferidos. Acho simplesmente genial a forma como um roteiro bem inteligente é capaz de transportar elementos banais do cotidiano e transformá-los na mais pura diversão. Quem soube fazer isso muito bem foi o mestre/diretor/roteirista Billy Wilder e, neste gênero, seu maior destaque é inegavelmente The apartment. Em termos de comédia, The apartment vai muito além da comédia de costumes, sendo um filme genuinamente completo, contando com elementos de drama, comédia romântica e romance propriamente dito. O filme esboça uma vastidão de personagens tão divertidas quanto amorais, envolvidas em contatos sujos de interesses e infidelidade que desafiam os valores dos bons costumes prezados pela época. Afinal, tratando-se de 1960, a produção de Billy Wilder é demasiadamente ousada em sua temática provocativa e atípica. Uma grande confusão amorosa e moral, que, para mim, é uma das melhores comédias de todos os tempos. Pode não ser de rolar de rir, de fato, mas sua inteligência é cativante. A dupla Jack Lemmon e Shirley MacLaine é genial.

16. Réquiem para um sonho (Requiem for a dream, 2000)
Direção: Darren Aronofsky
Com: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connely, Marlon Wayans
Um choque. Poucos filmes podem ser tão desconfortáveis pela crueza como evidenciam a realidade. Num universo de vícios, o diretor Darren Aronofsky não mede esforços para passar uma experiência cinematográfica mais vívida o possível, jogando suas personagens na mais total perda de controle, um verdadeiro turbilhão emocional em que suas vidas são jogadas que se baseia, exclusivamente, nos vícios e no modo como manipulam e controlam mente e corpo das pessoas, como as transformam e, principalmente, como as destroem. Incômodo do começo ao fim é sadicamente divertido, empolgante e impossível de parar de assistir. A maneira como as personagens se autodestroem não chega a ser digna de pena, mas é capaz de despertar curiosidade suficiente para que não se saia de frente da tela até os créditos finais. Quem viu Cisne Negro percebeu que o diretor sabe como criar climas de tensão. Pois aqui a tensão é ainda mais elevada e cresce das formas mais absurdas e impensáveis possíveis. Um show de atuação de Jared Leto, Marlon Wayans, Jennifer Connely e, principalmente, de uma das grandes do cinema americano, Ellen Burstyn, cuja maneira de mostrar a fragilidade emocional, as inseguranças tolas e, principalmente, a deterioração física e psíquica da personagem é estarrecedora.

15. Drive (2010)
Direção: Nicholas Vinding Refn
Com: Ryan Golsling, Carey Mulligan, Albert Brooks
O filme mais interessante dos últimos dois anos, Drive é uma fábula moderna de ação, suspense e romance, guiados por uma direção aguçada e atores muito competentes. O filme centra-se na relação entre um homem misterioso, o qual nem sabemos o nome, interpretado por Ryan Gosling , que se encontra perdidamente apaixonado por sua jovem vizinha de modo a se dispor a protegê-la de todos os perigos que a envolvem, relacionados a seu marido recém saído da prisão e da máfia que os cercam. Tecnicamente falando, Drive é impecável. A fotografia é belíssima e acompanha as grandes mudanças de tom pelas quais o filme passa. Se num primeiro momento tudo é a magia da descoberta do amor, com paisagens bucólicas e ensolaradas ao entardecer, a metade final é negra, escura, sórdida e violenta. A violência é elevada aos limites conforme o conto torna-se cada vez mais perigoso e envolvente. A relação amorosa entre Ryan Gosling e Carey Mulligan é de uma pureza e uma sensibilidade que contrasta a todo o momento com o extremismo da violência onde aqueles personagens se encontram, tendo este antagonismo alcançado o ápice na já clássica cena do elevador. É quase um conto de fadas na verdade, onde um “príncipe encantado” luta a qualquer preço para defender sua “donzela” em perigo. A diferença é que no lugar de uma armadura de metal temos uma jaqueta prateada e em vez de cavalos brancos, carros envenenados dispostos a intensas cenas de perseguições. Méritos também para a trilha sonora.

14. Crepúsculo dos deuses (Sunset Boulevard, 1950)
Direção: Billy Wilder
Com: Gloria Swanson, William Holden
“Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos”. A meu ver, não há duvidas de que este aqui é o melhor filme de Billy Wilder. Crepúsculo dos deuses é uma grande crítica à própria indústria do cinema e do entretenimento, um mundo que pode num momento elevar uma pessoa ao céu e, em questão de minutos, lançá-lo no total ostracismo quando não lhes é mais conveniente. É isso que ocorre com a Norma Desmond interpretada por Gloria Swanson. Uma musa do cinema mudo largada no esquecimento após o advento do cinema falado e que sofre com sua loucura e suas obsessões ao mesmo tempo em que alimenta fantasias megalomaníacas de uma volta ao estrelato que jamais ocorrerá. O roteiro de Wilder é fantástico. A forma como amarra as diferentes circunstâncias que culminam para o grande final, que é revelado já no início do filme, é de uma inteligência incrível. O filme é ácido, maldoso e as coisas se desenrolam de uma maneira ironicamente cruel para todas as personagens. Wilder não se importa de vê-las sofrer e as castiga pelos seus erros. Com certeza, este é também um dos melhores filmes não vencedores do Oscar de melhor filme, mas nem em 1951 nem em qualquer outro ano sua vitória ocorreria. Afinal, é uma produção metonímica crítica e mordaz demais para que os votantes dêem o braço a torcer e o consagrem dessa maneira. Bom, isso não importa. O que importa é que este é um dos melhores filmes de todos os tempos, e isso já é consagração mais que suficiente.
13. Nashville (1975)
Direção: Robert Altman
Com: Ronee Blakley, Lily Tomlin, Shelley Duvall, Ned Beaty
Em meio ao total clima de desesperança nos EUA dos anos 70, causado pelo escândalo Watergate e a catastrófica guerra do Vietnã, Robert Altman, sempre audaz, cria um universo fictício centrado numa das grandes capitais do país: Nashville. A capital mundial da música country converge uma grande fatia do verdadeiro EUA, com seu povo vivendo suas vidas, mas lotadas de decepções. É um tipo de retorno às raízes do país, digamos assim. Liderando um elenco enorme, Nashville nos mostra várias histórias paralelas com pequenos pontos de intersecção entre si, mas todas pontuadas pelos mesmos elementos: descrença, desesperança, arrependimentos, sofrimento. As personagens refletem em si toda a depressão e negação do período. Um país debilitado reflete num povo debilitado. As personagens de Nashville vão se afundando cada vez mais no fundo do poço e aparentemente não podem fazer nada para mudar isto. É uma força superior. A conclusão do longa, para mim, ainda permanece como uma incógnita. O close final na bandeira dos EUA que paira soberana sobre a cidade tanto pode ser interpretada como um sinal de luz no fim do túnel como também como uma forma zombeteira de dizer: isto é a verdadeira América. É isto que está por trás de toda a propaganda do “american way of life”. Como se trata de uma década muito confusa, Altman abusa no caos, tanto pelo número de personagens quanto pela falta de linearidade de narrativa e manter tudo isto sob controle é marca registrada deste que é um dos melhores diretores de todos os tempos. Nashville faz parte, também, de um dos melhores anos de indicados ao Oscar de melhor filme da história da competição. Estavam na disputa: Nashville, Tubarão, Barry Lyndon, Um dia de cão e o vencedor, Um estranho no ninho (um dos três filmes a vencer as cinco categorias principais). Meu preferido dos cinco? Nashville. Seria possível a vitória? Não. Crítico demais.

12. Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941)
Direção: Orson Welles
Com: Orson Welles
Filme obrigatório para cinéfilos. Um filme capaz de mudar perspectivas e entendimentos sobre o que é o cinema e, principalmente, um filme que justifica a designação deste como a sétima arte. Uma obra indispensável, intensa, interessante do começo ao fim. O diretor/ator Orson Welles cria a história de um magnata e o envolve em meio a um mistério em sua morte. A enigmática palavra “Rosebud” ecoa a mais de sete décadas na mente cinéfila. Para desvendar este mistério, toda a vida de Kane é desconstruída, passando de sua infância pobre a sua vida de velho milionário no palácio de Xanadu (a idéia teria vindo do palácio onde vivem as personagens de Rebecca do diretor Alfred Hitchcock). Um enredo construído em flashbacks, Cidadão Kane guarda doses enormes da mais pura genialidade cinematográfica. Além da narrativa não-linear, a fotografia do filme é algo totalmente inovador para o início dos anos 40. A posição das câmeras, o jogo de luzes, os artifícios de imagem. Tudo permanece, até hoje, extremamente primoroso de se ver. Uma verdadeira aula de cinema. Não é à toa que o filme permaneceu por 50 anos como o melhor filme de todos os tempos segundo a revista inglesa Sight and Sound, sem falar em todos os diretores que tiveram seu trabalho diretamente influenciado pela obra prima de Welles.

11. Hannah e suas irmãs (Hannah and her sisters, 1986)
Direção: Woody Allen
Com: Mia Farrow, Barbara Hershey, Dianne Wiest, Michael Caine, Max Von Sydow, Woody Allen
O filme mais abrangente de toda a vasta filmografia de Woody Allen, Hannah e suas irmãs concentra-se na conturbada e dependente relação familiar de uma grande família onde tudo converge para um ponto central: Hannah (Mia Farrow), a canalizadora de tudo. De maneira muito sutil, Woody Allen aborda todos os temas recorrentes em sua carreira, mas consegue explorá-los de maneira muito melhor que na maioria de seus outros filmes. Todas as personagens principais de Hannah e suas irmãs são construídas e desconstruídas, de modo que Woody mostra um interesse muito particular em explorar todas as camadas da personalidade dos envolvidos na história. Esse traço é nitidamente influenciado pelo trabalho do cineasta sueco Ingmar Bergman, ídolo de Allen. A presença do ator Max Von Sydow também é um bom exemplo da presença marcante da obra de Bergman em Hannah e suas irmãs. Além da família, o longa também aborda: religião, morte, vida, sexo, amor, amizade, ressentimento, culpa e traição. O conteúdo mais dramático encontra um contraponto preciso com o núcleo cômico do filme, liderado por um Woody Allen tão engraçado quanto poucas vezes. Vencedor de três Oscar (melhor roteiro, melhor atriz coadjuvante – Wiest – e melhor ator coadjuvante – Caine), permaneceu por mais de duas décadas como a maior bilheteria de Allen, sendo superado apenas por Meia noite em Paris.

Leia também:

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um corpo que cai - vertigem, amor e obsessão

Ao contrário de Janela indiscreta (1954) ou Psicose (1960), filmes que obtiveram imenso reconhecimento junto ao grande público, Um corpo que cai (Vertigo, 1958) não obteve boa bilheteria e ainda foi esmagado pela crítica. Na época foi considerado muito complexo e sustentado em planos diabólicos quase impossíveis - como isso não fosse o seu grande diferencial. Por um lado, não é de se estranhar a rejeição ao filme, já que se trata de um suspense um tanto longe do convencional; mas eu não vejo o motivo que leve alguém a não se envolver com um clima de mistério de tão elevada qualidade.
A excelente abertura  começa com um close num rosto feminino: primeiro o queixo, depois o meio, por fim os olhos, em que aparece o título Vertigo e espirais numa sequência de efeitos especiais inovadores para a época; espirais estas que acompanham o problema do protagonista do filme, o detetive Scottie (James Stewart, parceria recorrente de Hitchcock), que sofre de vertigem.  Na primeira cena vemos Scottie, então policial, numa perseguição a um criminoso por telhados de prédios de San Francisco, quando ele escorrega e fica pendurado numa calha, daí um colega tenta ajudá-lo, cai e morre. O acidente traumatiza Scottie e o leva a se aposentar da polícia e se ocupar como detetive particular.
Algum tempo depois Scottie é contratado por um colega de muitos anos atrás para seguir sua esposa, que segundo ele vinha apresentando um comportamento muito estranho, e ele chegou a desconfiar que ela estava possuída pelo fantasma de sua bisavó, com quem tinha uma impressionante semelhança física. O detetive então passa a investigar a linda e elegante Madeleine (Kim Novak, que se tornou uma das mais lindas loiras Hitchcock), que realmente era idêntica a sua antepassada, e parecia estar em outro mundo: ia a vários lugares apenas para fixar o olhar no vazio ou andar em círculos. Durante todo o tempo em que é seguida, a moça não pronuncia uma só palavra, e só ouvimos sua voz aos quarenta e cinco minutos de filme. Toda esta primeira parte é marcada pelo suspense tão primoroso de Hitchcock, que aqui beira o sobrenatural. O espectador se vê diante de uma incógnita assim como Scottie. E quando parece que a investigação tomará algum rumo, nos deparamos com uma das melhores e mais radicais reviravoltas do cinema, que põe fim à primeira parte.
A partir da metade do filme, Hitchcock passa a explorar mais a fundo a mente de Scottie, suas manias, neuroses e obsessões. Não posso falar mais nada sobre o enredo, pois fazer spoiller de Um corpo que cai é estragar as surpresas garantidas por um dos melhores filmes de todos os tempos, mas me permito dizer que quando a história parece estável e nos arriscamos a prever o final, o mestre do suspense novamente surpreende, mudando bruscamente o destino das personagens. Repito: não sei onde as pessoas da época viram defeitos nesse filme. Antes de mais nada, Um corpo que cai é marcado pelo perfeccionismo de seu diretor, afinal, Hitchcock podia não ser um maníaco como Kubrick (que chegou a fazer 140 tomadas da mesma cena em O iluminado), mas também era muito rigoroso com a técnica. Dá pra perceber isso na abertura, no delicado clima sobrenatural da primeira parte, no jogo de cores usado para relacionar cenas da primeira metade com a segunda e na bela fotografia em cores. Grande destaque para dois colabores assíduos de Hitchcock: a estilista Edith Head, que assina as lindas roupas usadas por Kim Novak, e o compositor Bernard Herrman, cuja música é elemento chave para o clima de suspense de todo o filme, e que não deve nada para a música de Psicose, também composta por ele. Se a música do filme de 1960 é perfeita para o terror dos violentos assassinatos do Bates Motel, a de Vertigo é perfeita para a permanente tensão diante dos mistérios que Scottie tenta desvendar.
O que mais posso falar? Que este é um filme envolvente, maravilhoso, perturbador, friamente romântico e capaz de ser interpretado de tantas outras formas. É daqueles que basta assistir uma vez para entrar na lista de preferidos - o que aconteceu comigo. E apesar da rejeição enfrentada há cinquenta e cinco anos atrás, a partir dos anos 80 Vertigo foi ganhando espaço junto à crítica, e ganhou tal fôlego que ano passado subiu para o primeiro lugar na lista de melhores filmes da Sight and Sound, tirando Cidadão Kane de um lugar que fora dele desde a primeira edição da lista, em 1962. E mesmo sendo grande fã dessa obra prima, tenho minhas dúvidas se ela merece ocupar tal posição. De todo jeito, é um filme obrigatório para cinéfilos e uma ótima experiência que só gênios do quilate de Alfred Hitchcok poderiam produzir.

Nota: 10

Leia também:
Interlúdio
Psicose
Sombra de uma dúvida

Luís F. Passos

domingo, 11 de agosto de 2013

Top 30: filmes preferidos - Lucas (1)


30. Uma rua chamada pecado (A Streetcar Named Desire, 1951)
Direção: Elia Kazan
Com: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter, Karl Malden
Uma das coisas que mais gosto de apreciar no cinema são filmes com caráter teatral. Por assim dizer, refiro-me a contos de simplicidade espacial e gigantismo de diálogos e nuances, com roteiros caprichados inundados de referências e insinuações proferidas por um elenco geralmente pequeno em tamanho, mas de talento e entrosamento impecáveis. O que dizer, então, dos filmes baseados nas peças homônimas do polêmico escritor Tenessee Williams que chocaram o público americano dos anos 50 e 60 com um espetáculo de malícia velada e um grande “chega pra lá” na censura. Sua maior obra, Uma rua chamada pecado, é uma devoção ao desejo. Uma obra intensa, sexualizada e implicitamente perversa que se dispõe a despir suas quatro personagens de modo a mostrá-las em toda sua amplitude e podridão. Sem ser vulgar, Uma rua chamada pecado toca em temas polêmicos e é capaz de impressionar até o público de hoje. Dotado também de um dos melhores elencos já presentes em um filme de Hollywood, contando com os nomes de Karl Malden, Kim Hunter e dos imortais Vivien Leigh e Marlon Brando, que trazem dois de seus melhores trabalhos em tela.

29. Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1988)
Direção: Stephen Frears
Com: Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman, Keanu Reeves
Conto baseado em livro homônimo do século XVIII, Ligações Perigosas esmiúça a vida rica em bens materiais e miserável em moral e prazeres da perversa marquesa de Merteuil (uma interpretação fenonemal de Glenn Close), cuja principal diversão na vida fútil e leviana é escolher as pessoas mais puras a seu redor e as destruir de todas as maneiras sórdidas e cínicas que estão a sua disposição, tendo sempre como ajuda o tão sensual quanto imoral Visconde de Valmont (grande trabalho de John Malkovich). A sedução é uma arma num jogo de destruição moral, onde o prazer da conquista é simplesmente a felicidade da humilhação alheia. Cínico e perverso, Ligações Perigosas é uma diversão maldosa que também serve como grande estudo de personagens, análise comportamental da rica burguesia francesa e de seu jogo de interesses e aparências. Uma pérola tão esquecida quanto imperdível.

28. Alien – o oitavo passageiro (Alien, 1979)
Direção: Ridley Scott
Com: Sigourney Weaver, John Hurt
O terror vem do espaço. Como, em meio a toda a tecnologia e avanços que o futuro e o brilhantismo que só o ser humano pode ter, a criatura mais primitivamente assassina pode causar o caos e espalhar o mais puro terror entre os sete passageiros de uma nave-cargueiro que vaga pelo universo? Em 1979, o trabalho visionário de Ridley Scott inovou o gênero de ficção científica e, de quebra, o do terror com este conto simples sobre um alienígena sem nenhum propósito além do da destruição, disposto a matar todos que estão a sua frente, os quais são simples vítimas indefesas. Todos exceto Ripley (Sigourney Weaver). Se fosse feita uma lista de 10 personagens femininas mais fortes do cinema, dez entre dez cinéfilos de respeito a colocariam na lista. Alien tem tudo e mais um pouco: técnica perfeita, elenco sincronizado, trilha intensa, fotografia sufocante, vilão marcante e cenas que são inesquecíveis. Desafio-te a olhar pro ET com os mesmos olhos.

27. Cisne Negro (Black Swan, 2010)
Direção: Darren Aronofsky
Com: Natalie Portman, Vicent Cassel, Barbara Hershey, Mila Kunis
A viagem alucinógena pela mente perturbada da devotada e reprimida bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) é um dos filmes mais comentados, elogiados e detalhados em todos seus complexos detalhes psicológicos dos últimos cinco anos do cinema americano. O controverso diretor Darren Aronofsky cria um universo de sofrimento físico e psicológico ao mergulhar numa busca irracional e violenta pela perfeição por parte da pobre Nina, que é levada aos seus limites físicos e mentais por um caminho de confrontação direta com seus desejos reprimidos, seus anseios e toda a pressão que a cerca por todos os lados. Tecnicamente perfeito, muito me agrada o tratamento que é dado ao balé por parte do filme. Esporte de sangue, dor e suor disfarçado por uma máscara de beleza e suavidade. Mas, como disse, tudo são máscaras e Aronofsky gosta de arrancá-las. Atuação visceral e inesquecível de Natalie Portman consegue ser o ponto de alto de algo que já é por si só excepcional.

26. Rede de intrigas (Network, 1976)
Direção: Sidney Lumet
Com: Faye Dunaway, Peter Finch, William Holden, Robert Duvall
Gosto muito de filmes críticos, dispostos a mostrar verdades inconvenientes e que não se preocupam, de maneira alguma, em causar desconforto ao espectador. Em Rede de intrigas, sucesso dos anos 70, a mídia televisiva é desmascarada e toda a podridão, manipulação, corrupção e perda de moral e valores éticos são expostas em meio a uma grande crítica embasada no mais puro sensacionalismo televisivo. As intrigas vão muito além das telas de TV e invadem a vida das personagens, figuras tão sórdidas, imorais e sem escrúpulos quanto o sistema o qual defendem e do qual se nutrem. A maneira como Rede de intrigas tece uma teia de confrontos e choques entre suas personagens denota a altíssima qualidade deste que é um dos roteiros mais ácidos e bem escritos do cinema mundial.

25. Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004)
Direção: Michael Gondry
Com: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst, Mark Rufallo, Elijah Wood, Tom Wilkinson
Blessed are the forgetful. Decepções amorosas são capazes de levar as pessoas a tomarem as atitudes mais drásticas. E quem nunca quis simplesmente apagar algo ou alguém de sua memória? Ver-se permanentemente livre de uma grande decepção? É com essa premissa simples que Brilho eterno de uma mente sem lembranças cria o romance mais interessante dos anos 2000. Com um drama intenso, o filme passeia pela tão bela quanto efêmera história de amor do emocionalmente fechado Joe (Jim Carrey) e a emocionalmente explosiva Clementine (Kate Winslet) que decidem esquecer um ao outro. Romântico, divertido, inusitado e muito sentimental, um filme genuinamente sincero e de uma beleza sem comparação. Aparentemente complexo com seus ares de ficção científica, seu interior é muito simples. É um filme sobre amor e ponto final. E, olha, um dos melhores sobre o tema. Para coroar a inusitada experiência, ainda vemos Kate Winslet e Jim Carrey em papéis que contradizem suas zonas de conforto. Na verdade, Kate Winslet não tem bem uma zona de conforto já que sua marca é a diversidade, mas Jim Carrey foge totalmente de seu padrão cômico/palhaço para trazer sua interpretação mais bonita. Meet me in Mountauk.

24. Ondas do destino (Breaking the waves, 1996)
Direção: Lars Von Trier
Com: Emily Watson
Famoso por maltratar as heroínas protagonistas de seus dramas intensamente psicológicos, um dos filmes menos louvados, porém mais intensos, de Lars Von Trier é justamente o que inicia essa onda de personagens femininas liderando o trabalho do diretor. Antes de Björk, Nicole Kidman, Bryce Dallas Howard, Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst, a primeira atriz a se aventurar pelo sadismo do diretor foi a até então novata Emily Watson na pele de Bess McNeil. Um filme basicamente sobre a devoção. Sobre a entrega de corpo e alma de uma pobre e inocente moça a seus alvos de verdadeira adoração e ao que acredita ser um bem maior. Esta incursão de Bess tanto a torna algum tipo de santa quanto um alvo perfeito para o sadismo quase incontrolável de Trier, que usa e abusa de sua personagem das formas mais fortes, perigosas e cruéis possíveis, tornando Bess uma das personagens mais difíceis e desafiantes do cinema moderno (que, ressaltando, estava nas mãos de uma atriz novata). Uma experiência cinematográfica angustiante, desconfortável e difícil de esquecer, Ondas do destino ficou na minha cabeça muito além das duas horas de sua duração, tornou Emily Watson uma das minhas atrizes preferidas e, como todo bom filme de Trier, encheu minha cabeça de bons questionamentos. Aos cinéfilos que ainda não assistiram, vejam.

23. Laranja mecânica (A Clockwork Orange, 1971)
Direção: Stanley Kubrick
Com: Malcom McDowell
Cor. Som. Fúria. Beethoven. Violência. Moloko. Estas palavras isoladas provavelmente não surtem grande efeito, mas unidas compõem a ópera de horror de Stanley Kubrick: Laranja mecânica. Baseado em livro homônimo, o filme lança o espectador a um universo de um futuro não tão distante, mas totalmente diverso ao presente que conhecemos. Na verdade, não tão diverso assim. É mais como uma maximização dos elementos sórdidos de nossa sociedade, canalizados na figura egocêntrica, maníaca e perturbada do jovem estuprador/assassino/agressor/fã de música clássica Alex DeLarge (Malcom McDowel). O retrato da perversão e crueldade social de Laranja mecânica só pode ser comparado à maneira deste próprio de tratar o controle social e a perda de identidade por parte de um sistema protetor (ou seria opressor?), controlador de mentes e manipulador. Como se não bastasse sua temática por si só emblemática, Kubrick ainda abusa de um show de edição, fotografia, figurino, diálogos (como esquecer o dialeto particularmente perturbados das personagens?) e trilha sonora. Nunca mais Beethoven e Gene Kelly foram os mesmos.

22. A primeira noite de um homem (The Graduate, 1967)
Direção: Mike Nichols
Com: Dustin Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross
Um grande ritual de passagem, The Graduate explora os caminhos confusos de um jovem pela sua transição entre a juventude descompromissada e os direitos e deveres de sua vida adulta. Na figura de Benjamin (Dustin Hoffman) todas as fobias juvenis sobre incerteza do futuro, apreensões sexuais, dúvidas amorosas e inexperiência de vida estão personificadas. A graduação a qual o título se refere não se limita apenas ao simples ato de adquirir um diploma universitário, mas ao amadurecimento (da personagem e do cinema americano também). Tornar-se um homem aprendendo com os erros e lidando com responsabilidades. Aliado a isso, The Graduate ainda se dispõe a compor um dos triângulos amorosos mais absurdamente interessantes do cinema, afinal, Benjamin ama a jovem e bela Elaine (Katharine Ross), mas encontra-se nas garras da sexualmente dominadora Sra. Robinson (Anne Bancroft), mãe da garota, com quem manteve um caso amoroso. O amor, aliás, é bem explorado pelo filme, mas já não é construído de uma maneira idealizada ou artificialmente romântica. Não existe essa história de felizes para sempre. Sua temática controversa e de teor polêmico nitidamente foi um choque para a sociedade de 1967, mas seu impacto o tornou um dos filmes mais importantes da indústria e o eternizou como um dos propulsores da revolução cinematográfica dos anos 70. Isso sem esquecer a trilha sonora brilhante liderada por The Sound of Silence de Simon and Garfunkel, que pontua todas as dúvidas e os sentimentos do confuso e empático Benjamin.

21. Cães de aluguel (Reservoir dogs, 1992)
Direção: Quentin Tarantino
Com: Quentin Tarantino, Harvey Keitel, Steve Buscemi
Em meio ao clima de comodismo dos anos 90, eis que explode nas telas a novidade. O original e visceral trabalho de Quentin Tarantino encontrou no público de sua época o espectador perfeito para seus exageros de sangue, risos nervosos e tensão. Tudo para que possamos nos deliciar com a forma divertida e fora de qualquer padrão convencional com a qual o diretor trabalha seus personagens e seus conflitos, ambos igualmente numerosos. Seu trabalho de estréia, Reservoir dogs, é tão impactante quanto os tiros e os palavrões lançados durante toda a duração do filme. Um genuíno choque. Audácia e originalidade sem fim cercam este conto sobre um grupo de homens perigosos envolvidos com um crime furado e suas tentativas desesperadas de escaparem imunes, ou pelo menos vivos, da confusão violenta em que se envolveram. E que violência. Litros de sangue se misturam a piadas corriqueiras, dancinhas “simpáticas”, orelhas decepadas e, sim, Like a Virgin de Madonna. Apesar de abusar de referências a grandes cineastas, Tarantino é um diretor genuinamente pop, e seu universo é muito bem pontuado por este elemento. 

Leia também:

Lucas Moura