terça-feira, 9 de julho de 2013

Top 30: Filmes preferidos - Luís (3)

10. Um Estranho no ninho (One Flew over the Cuckoo's nest, 1975)
Direção: Milos Forman. Com Jack Nicholson, Louise Fletcher e Brad Dourif.
Bem no meio da época em que a geração conhecida como Nova Hollywood estava a pleno vapor, o diretor Milos Forman adaptou para o cinema o livro Um estranho no ninho de Ken Kelsey, uma história que tinha tudo a ver com o contexto da época, em que eram produzidos filmes de forte apelo psicológico e questionador. Jack Nicholson vive o bandido de quinta Randle P McMurphy, que finge problemas mentais para sair do presídio, onde era obrigado a trabalhar, e vai para o manicômio judicial esperando fazer o que quisesse. O que ele não sabia é que o demônio tinha feito curso de enfermagem e atendia pelo nome de Mildred Ratched (Fletcher), enfermeira chefe do hospital. O que faz de Mildred um ser tão maligno é o fato dela fazer o mal na certeza de estar fazendo o melhor para seus pacientes. O anticonformista e carismático McMurphy então declara guerra à enfermeira, tentando rebelar seus companheiros contra o sistema vigente no hospital. O resultado é um filme excelente que entrou na história por ser o segundo a faturar os cinco Oscars principais (filme, direção, roteiro, ator e atriz), além de ser um dos melhores e mais queridos trabalhos de Jack Nicholson.

9. Quanto mais quente melhor (Some like it hot, 1959)
Direção: Billy Wilder. Com Marilyn Monroe, Jack Lemmon e Tony Curtis.
Dia desses eu tava comentando com uns amigos o porquê de considerar Quanto mais quente melhor (QMQM pros íntimos) a melhor comédia de todos os tempos, já que existem comédias excelentes como Annie Hall de Woody Allen e The apartement (Se meu apartamento falasse, no Brasil), do mesmo diretor de QMQM. Bem, Annie é um filme que apesar de muito engraçado, não se restringe à comédia e é muito abrangente, sendo muito eficiente em todos os temas que engloba - e como quase todos os filmes de Woody, não dá pra encaixar num gênero, é melhor chamar de gênero Woody Allen. Já The apartment é uma comédia de costumes completíssima que também trata de diversos temas, satirizando quase todos e com uma história de amor bem bacana; também dispõe do mesmo protagonista que QMQM, Jack Lemmon. A questão é que QMQM é comédia no sentido mais comum da palavra, um filme para provocar gargalhadas, já que traz elementos mais pastelão que os outros dois que citei acima. Não nego que o prefiro também por um fator chamado Marilyn Monroe (que meus amigos têm razão, não era grande atriz, mas executava perfeitamente o que era esperado de si), de quem gosto muito, e que ao interpretar o típico estereótipo de loira burra e sensual junto aos ótimos Jack Lemmon e Tony Curtis, que se vestem de mulher para escapar da máfia, fez história nesse filme queridíssimo e da mais alta qualidade que é Quanto mais quente melhor.

8. As horas (The hours, 2002)
Direção: Stephen Daldry. Com Nicole Kidman, Meryl Streep, Juliane Moore e Ed Harris.
Lembro de quando assisti As horas pela primeira vez e fiquei de boca aberta e cara de contrariado, quase a mesma expressão que Nicole Kidman manteve por boa parte do filme. "Que coisa mais linda!", era o que pensava. Nas outras vezes que vi mantive a expressão contrariada, mas sem a boca aberta, pois já não era surpresa a qualidade do filme. Dividido entre três épocas diferentes, As horas gira em torno do livro Mrs Dalloway de Virginia Woolf; em 1923 vemos Virginia (Kidman) escrevendo o livro e lidando com seus problemas psicológicos, em 1951 uma dona de casa chamada Laura (Moore) lê o romance de Virginia e queria viver aquela história, já em 2002 uma editora chamada Clarissa (Meryl) é praticamente a encarnação de Clarissa Dalloway, e no dia em que dará uma festa a seu amigo Richard (Harris) quase desmorona sob o peso que carrega em sua vida - inclusive Richard, que é soropositivo. Um filme introspectivo, bonito e emocionante, marcado por ótimas atuações, principalmente a de Nicole Kidman, vencedora do Oscar de melhor atriz.

7. Fale com ela (Hable con ella, 2002)
Direção: Pedro Almodóvar. Com Javier Cámara, Darío Grandinetti e Rosario Flores.
Quando escrevi sobre Fale com ela aqui no blog ano passado falei que o vi sem saber que era um filme de Almodóvar e que não sabia nada sobre ele; talvez a feliz surpresa que tive tenha contribuído para a ótima imagem que criei sobre ele. A história é simples: o repórter Marco (Grandinetti) se envolve com a promissora toureira Lydia (Flores), que ao sofrer um grave acidente entra em estado de coma profundo. Na clínica em que Lydia é internada Marco conhece o enfermeiro Benigno (Cámara), que é apaixonado por sua paciente Alicia. Os dois amigos se veem na mesma situação, buscando o amor de mulheres permanentemente inconscientes - o "fale com ela" do título é um conselho que Benigno dá ao repórter para que este tente diminuir sua dor. Almodóvar utiliza poesia e sutileza para contar essas tristes histórias que se encontram e são tão semelhantes, se afastando um pouco de seu estilo em que personagens femininas e homossexuais se destacam, dando lugar a dois protagonistas masculinos, e trocando a tradicional turbulência pela delicadeza da dança (inclusive as touradas são suavizadas e comparadas ao balé) e músicas bonitas e tristes, como Cucurrucucu paloma, interpretada por Caetano Veloso.

6. O poderoso Chefão pt 2 (The Godfather pt 2, 1974)
Direção: Francis Ford Coppola.
Com Al Pacino, Diane Keaton, Robert De Niro, Robert Duvall e John Cazale, Talia Shire e Lee Strasberg.
Prosseguindo o estrondoso sucesso de O poderoso chefão e mantendo a qualidade altíssima (para muitos, até mesmo superando) a parte II se divide em duas épocas distintas: uma que segue a partir do fim do primeiro filme, com Michael (Pacino) como o novo Don Corleone, e outra que começa na Itália em 1909 em que a criança Vito Corleone, então com oito anos, enterra seu pai, morto pelo mafioso local.
A partir de um atentado sofrido por Michael em sua mansão no fim dos anos 50/ início dos 60, ele busca saber quem tentou matá-lo e saber quem são seus verdadeiros inimigos, enquanto procura aumentar a rede de cassinos da família, viajando, inclusive, para a Cuba pré-Revolução e sendo testemunha da tomada de Havana pelos rebeldes na virada do ano de 1961. Além disso, há o desmoronamento de seu casamento e o declínio vertiginoso de seu caráter na busca de poder e dinheiro. Paralelamente, décadas antes, vemos o jovem Vito (De Niro a partir da idade adulta) em um bairro pobre do Brooklyn, em que mata um mafioso de relativo poder e aos poucos vai ganhando reputação e poder, crescendo seus negócios e ganhando "afilhados".
Diferente do primeiro filme, aqui é mais visível a crueldade da máfia e seus efeitos negativos sobre as pessoas, no caso Michael, que cresce em poder mas afunda num ciclo de melancolia, crueldade e traição. Esse é um dos motivos de mostrar dois Corleone em épocas diferentes: comparar o jovem Vito, que mesmo trabalhando na ilegalidade procurava ajudar aos outros e aumentou sua influência com base em amizades e favores, ao famigerado Michael, que termina praticamente sozinho em sua mansão. O filme é mais sombrio e negativo que o anterior, em boa parte pela personagem de Pacino, mas nem por isso menos envolvente - impossível sair de frente da tela ou mesmo se cansar ao longo das mais de 3 horas dessa obra-prima.

5. Taxi driver (1976)
Direção: Martin Scorsese. Com Robert De Niro, Jodie Foster e Cybill Shepherd.
Ninguém retrata os subúrbios melhor que Scorsese. E foi mostrando o ambiente sujo dos subúrbios nova-iorquinos à noite que ele fez um de seus melhores filmes, logo no início de sua carreira. De Niro interpreta Travis, veterano do vietnã que arruma emprego como taxista para trabalhar na madrugada já que tinha uma insônia grave; e a partir de seu olhar vemos as excluídas personagens da noite suburbana: traficantes, ladrões, prostitutas, travestis, negros e viciados. Segundo Travis, era preciso uma chuva para lavar Nova York. Vemos desde o início que ele é obsessivo, e ao longo da história, os alvos de sua fixação mudam: primeiro, uma jovem cabo eleitoral, depois um candidato à presidência, por fim uma jovem prostituta. E esses transtornos de Travis são frutos de seu isolacionismo; a moça que ele tenta namorar é sua tentativa de se reaproximar da sociedade, não dá certo; ele então parte na tentativa de destruir a mesma sociedade, e também não dá certo; por fim, ele tenta salvá-la, ajudando a jovem prostituta - e acaba se tornando um herói que nunca imaginara ser.
O filme ultrapassa o cinema noir e se enegrece ao ponto de ser sujo. É um retrato tão real, tão visceral da desordem e do mal-estar urbanos que chega a ser incômodo. Por mais forte que seja a personagem de De Niro, os temas que o filme trata são maiores que ela, deixando-o muito abrangente e universal; o mesmo não acontece em Touro indomável, cujo protagonista marcante é um pilar único do filme. Contribuindo com a direção de Scorsese, a trilha sonora típica do cinema noir - jazz - e a ótima interpretação de De Niro, um dos primeiros trabalhos dele junto ao seu amigo e diretor.

4. Annie Hall (1977)
Direção: Woody Allen. Com Woody Allen, Diane Keaton e Tony Roberts.
O melhor filme de Woody Allen consegue abranger vários assuntos, mas entre eles o que mais se destaca é o amor, mais especificamente o amor na forma de relacionamentos - e quão difícil é mantê-los. E por mais que eles sejam irracionais, complicados, absurdos... precisamos deles. Essa é a lição passada por Alvy (Allen), comediante nova-iorquino e típico judeu da obra de Woody: neurótico, irônico, hipocondríaco, reclamão. Alvy se apaixona por Annie (Keaton), que é bem diferente dele, já que é tranquila, não tem profissão definida, trabalhando como cantora em bares e se ocupando com fotografia e cursos para adultos em universidades. O relacionamento complicado de Alvy e Annie é prato cheio para situações engraçadas, brigas, discussões filosóficas, psicanalíticas e claro, romance. O ótimo roteiro escrito por Woody e Marshall Brickman, que levou o Oscar de roteiro original, acompanha a relação do casal do início até depois de seu fim (não é spoiller, logo na primeira cena vemos que não deu certo) sem seguir uma ordem cronológica; uma cena mostra os dois brigando, a seguinte mostra boa convivência, a próxima traz o primeiro encontro deles numa quadra de tênis. Tais quebras foram inovadoras, assim como várias criadas por Woody que revolucionaram o falido e clichê gênero das comédias românticas e lançaram as bases do gênero tal qual o conhecemos hoje, apesar de quase nenhum filme atual manter um padrão de qualidade de Annie Hall. (500) dias com ela, de 2008, lembra muitas características de Annie, tanto de enredo como de técnica, e se destaca por ser um filme bem superior a seus concorrentes atuais. Mesmo assim, é difícil competir com essa obra-prima que mesmo 36 anos depois de seu lançamento permanece incrivelmente atual.

3. O poderoso Chefão (The Godfather, 1972)
Direção: Francis Ford Coppola. Com Marlon Brando, Al Pacino, Robert Duvall, James Caan e Diane Keaton.
Quando eu dizia que ainda não tinha visto O poderoso Chefão, a reação de meus amigos era sempre a mesma: olhos arregalados e a vontade de me dar um tapa. E depois que eu assisti, pensei porque não tinha feito isso antes com a mesma expressão de meus amigos. A primeira das obras-primas de Coppola está num nível tão alto de qualidade  que é difícil de acreditar que há gente que viu e não gostou. Baseado no best-seller de Mario Puzo, que foi co-roteirista do filme, O poderoso Chefão é centrado na Família Corleone, uma das cinco grandes famílias mafiosas de Nova York, e a mais poderosa delas, pois é quem detém o maior número de amigos na política, na polícia e na justiça. Liderada pelo sábio e carismático Don Corleone (Brando), é formada por seus filhos Sonny (Caan), Fredo (John Cazale), pelo consigliere e filho adotivo Tom Hagen (Duvall) e vários outros familiares, de sangue ou não, que são protegidos pelo padrinho.
Coppola nos apresenta a um mundo em que criminosos são mocinhos (e os vilões também) cheios de charme, carisma e que prezam pela família acima de tudo. Trabalhando com maestria o clássico, o cinema noir e os dramas sociais, o diretor ditou muitos dos padrões que seriam seguidos na gloriosa década de 70 por toda Hollywood e que até hoje influenciam filmes de máfia. E o melhor de tudo é que mesmo trabalhando tantos temas, o filme é delicioso de se assistir, e suas três horas de duração passam incrivelmente rápido, graças a uma mágica (essa é a única palavra em que consigo pensar) que só ele e a parte II de sua continuação têm.

2. 2001: Uma odisseia no espaço (2001, A Space Odissey, 1968)
Direção: Stanley Kubrick. Com Keir Dullea, Gary Lockwood e William Sylvester
Depois da sequência de Lolita (1962) e Dr. Fantástico (1964), o público sabia que deveria esperar por mais um filme de Kubrick. E o que veio foi muito além das expectativas de qualquer um. 2001 foi concebido por Kubrick para ser mais uma sensação do que uma história. O diretor queria fazer um filme de ficção científica ambientado no espaço, e para isso olhou primeiro para o passado, milhões de anos atrás, na aurora da humanidade, para depois dar um salto até a era das viagens cósmicas. E com muita subjetividade e efeitos visuais impensáveis até então, que lhe renderam seu único Oscar, ele nos leva a uma viagem capaz de representar o desejo humano de conhecer o que há para dentro e para fora daquilo de nós mesmos que é conhecido. Mais que revolucionar a ficção científica, Kubrick mostra que não há limites para o cinema, para a imaginação e o talento de um artista.

1. Melancolia (Melancholia, 2011)
Direção: Lars von Trier. Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland.
 A emoção de ver Melancolia é forte desde o prólogo em câmera lenta em que tableaux são mostrados com o Prelúdio de Tristão e Isolda ao fundo, música que acompanha boa parte do filme e que é perfeita para aquilo que ele tenta passar. Melancolia é dividido em dois grandes capítulos; no primeiro conhecemos Justine (Kirsten), que está se casando no castelo de sua irmã Claire (Charlotte) numa grande festa oferecida por seu cunhado John (Kiefer). Aos poucos percebemos que a felicidade de Justine é apenas uma máscara que vai caindo rapidamente na cerimônia e a depressão com a qual ela vinha lutando toma conta de vez de seu espírito. Corte para o segundo capítulo, Claire, em que Justine, totalmente debilitada, vai morar com a família da irmã. Ao mesmo tempo, a notícia de um planeta chamado Melancholia que está em rota de colisão com a Terra (segundo os céticos, isso não teria chances de ocorrer) acaba com o sossego da tranquila Claire. À medida em que o fim parece eminente, Claire se entrega ao desespero e Justine parece sair um pouco de sua depressão, feliz em saber que em breve não haveria mais nada.
Melancolia se afasta dos filmes típicos de Trier que são carregados de violência psicológica e sofrimento emocional e segue mais a linha da delicadeza e da introspecção - a angústia sofrida pelas personagens é forte mas muito diferente de outras personagens do diretor que comeram o pão que o diabo amassou, como em Dançando no escuro e Dogville. As excelentes atuações, somadas ao roteiro e à impecável direção de Trier fazem deste um dos melhores filmes dessa década - e a emoção que provoca em mim faz dele meu preferido. E por melhor que seja Melancolia, sei que filmes como Apocalypse now de Coppola, Persona de Bergman ou mesmo 2001 de Kubrick o batem de longe, mas como estamos falando de preferência... deixo meu coração com Claire e Justine.

Leia também:
2001: Uma odisseia no espaço/ Annie Hall/ As horas
Fale com ela/ Melancolia/ Quanto mais quente melhor/ Taxi driver

Luís F. Passos

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Um comentário:

  1. Vi quase todos e devo discordar de 2001 e Fale Com Ela, os dois muito chatos kkkk! Mas parabéns Luís, adorei as suas críticas.

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