domingo, 7 de julho de 2013

Top 30: Filmes preferidos - Luís (2)

20. Os incompreendidos (Les quatre cents coups, 1959)
Direção: François Truffaut. Com Jean-Piere Léaud.
Gosto de Nouvelle vague. De seus filmes e principalmente da revolução que ela espalhou pelo mundo cinematográfico. E se olharmos para o início de tudo, vemos Truffaut e seu excelente filme de estreia, Os incompreendidos, que deu a ele o Prêmio de direção em Cannes. Início de uma longa e muito produtiva parceria com Jean-Pierre Léaud, o filme traz o jovem ator como Antoine Doinel, garoto parisiense esnobado pela família, desacreditado pelos professores e que se vê totalmente desajustado às instituições tradicionais. Antoine para de ir às aulas, foge de casa e é mandado para um internato. Fica a dúvida de quão autobiográfica é a personagem, já que é sabido que muitos dos atos de Antoine são inspirados em episódios da juventude do próprio Truffaut.

19. Tempos Modernos (Modern Times, 1936)
Direção (e roteiro e música): Charles Chaplin. Com: Charles Chaplin, Paulette Goddard e Henry Bergman.
Unanimidade entre professores de história, Tempos Modernos é o mais conhecido e um dos melhores filmes de Chaplin. Interpretando mais uma vez seu carismático vagabundo, Chaplin mostra o dilema de trabalhar em fábricas segundo o modelo fordista, em que surge a linha de produção e o operário se aliena do processo geral de produção, tendo apenas uma função; a de Carlitos era apertar parafusos - que Chaplin satiriza ao mostrar que ele não conseguia parar de mover os braços depois de horas repetindo o movimento. Após um surto psicótico, Carlitos se vê desempregado e conhece uma órfã que também era vítima do mundo automatizado; juntos eles tentam sobreviver à miséria e a todos os problemas causados pela Depressão econômica. A principal crítica aqui é à automação da indústria. Segundo Chaplin, máquinas deveriam ajudar os trabalhadores, e não lhes roubar o emprego.

18. Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950)
Direção: Billy Wilder. Com Gloria Swanson, William Holden, Erich von Strohein e Nancy Olson.
Eu já estava cansado de ouvir que Billy Wilder fora um dos melhores roteiristas de Hollywood. Seja em dramas tensos como Farrapo humano ou comédias engraçadísimas como Quanto mais quente melhor, roteiro bem estruturado e diálogos sagazes eram marca registrada de Wilder. E quando eu vi Crepúsculo dos deuses, vi que todo e qualquer elogio aos roteiros do cara ainda são poucos.
Joe Jills (Holden) é um roteirista desempregado e endividado que acaba se refugiando na mansão da outrora estrela Norma Desmond (Swanson), atriz que encontrou a decadência com o surgimento do cinema falado. Norma sonha com a volta às telas, e contrata Joe para revisar o roteiro de um filme que ela estrelaria, acreditando que teria as portas dos estúdios novamente abertas para ela. A atriz se apaixona pelo roteirista, mas ele ama secretamente uma revisora chamada Betty (Nancy Olson), com quem passa a se encontrar para escrever um roteiro - sozinhos, ele não conseguiam muita coisa, mas juntos estavam escrevendo um excelente texto. A partir de Norma, Billy Wilder mostra a ferocidade da indústria cinematográfica, que utiliza seus empregados, especialmente os atores, como marionetes e fontes de lucro para depois descartá-los. Há uma cena em especial, em que Norma visita seu antigo amigo e diretor Cecil B. DeMille em que fica mais visível que não importa a contribuição que um artista tenha dado ao cinema, ele pode ser facilmente substituído e esquecido.
Para mim, este é o melhor filme de Billy Wilder, apesar de não ser meu favorito. E recentemente seu roteiro foi eleito um dos dez melhores do cinema americano pelo sindicato de roteiristas, muito merecidamente.

17. Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971)
Direção: Stanley Kubrick. Com Malcom McDowell.
Nada como um pouco da boa e velha ultraviolência... na melhor fase de sua carreira e três anos depois da maravilha chamada 2001: Uma odisseia no espaço, Stanley Kubrick deixou meio mundo boquiaberto ao adaptar para o cinema o livro de Anthony Burgess. O filme é passado numa Inglaterra futurística em que um jovem chamado Alex DeLarge (McDowell) lidera uma gangue de "drugues" que sai toda noite para praticar uma violência que ultrapassa os limites daquela que conhecemos: é violência física, sexual e psicológica a um nível que ultrapassa a bizarrice, como cometer um estupro diante do marido da vítima enquanto canta alegremente Singin'in the rain. Quando é preso, Alex passa por um tratamento no mínimo surreal em que seu corpo é treinado a rejeitar toda forma de crime e prazeres como sexo, em cenas chocantes que o mostram amarrado e impossibilitado de fechar os olhos.  De volta à sociedade, parece que todos aqueles a quem Alex causou mal têm a chance de se vingar - vingança e perversidade são algumas das muitas questões levantadas por Kubrick. Uma das mais importantes é: o bem-estar comum é um argumento forte o suficiente para destruir personalidades individuais? E Kubrick apresenta tudo isso de forma espetacular, visual e sonoramente - impossível esquecer a 9ª Sinfonia de Beethoven, de quem Alex é fã e que o diretor sabe explorar muito bem, afinal uma sinfonia tem longa direção e Kubrick soube casar cada trecho da música a cada cena. Por mais que cause certo desconforto, o filme provoca como poucos a satisfação de estar diante de uma pura obra de arte.

16. Os Bons Companheiros (Good Fellas, 1990)
Direção: Martin Scorsese. Com Robert De Niro, Joe Pesci, Ray Liotta e Paul Sorvino.
Dentre os ótimos filmes de Scorsese, a cada década há um que se destaca: Taxi driver nos anos 70, Touro Indomável nos anos 80 e Os bons companheiros na década de 90. Retomando um estilo apresentado no início de sua carreira, antes do estouro que foi Taxi driver em 1976, Scorsese traz uma máfia diferente daquela eternizada por Coppola na trilogia O Poderoso Chefão. Sem o charme e cavalheirismo de mafiosos milionários da década de 50,  os gângsteres aqui são do subúrbio e nem todos têm descendência italiana. 
A figura central do filme é Henry Hill (Liotta), que cresce admirando os gângsteres e ingressa no mundo deles através de Paulie (Sorvino). Inicialmente fiscaliza venda de mercadorias roubadas, mas evolui para sequestro de aviões, assaltos a aeroportos, extorsões, lesões corporais graves e tráfico de drogas - este último foi sua maior ascensão e perdição. O acompanham seus melhores amigos Jimmy (De Niro) e Tommy (Pesci), um baixinho esquentado e violentíssimo que não hesita em bater, esfaquear ou atirar, até mesmo por alguém lembrar que ele fora engraxate na infância - atuação marcante que deu o Oscar de coadjuvante a Pesci. A empolgante história é contada através do controle de câmera que Scorsese tem  como poucos, que a faz ficar ainda mais veloz e envolvente. Outro mérito para o diretor é a trilha sonora marcada pelo pop.

15. Psicose (Psycho, 1960)
Direção: Alfred Hitchcock. Com Janet Leigh, Anthony Perkins e Vera Miles.
Ultimamente falei tanto em Psicose que provavelmente vou me repetir. Então é melhor dizer que o porquê dele ser um de meus preferidos: primeiro, porque é bom. E não é bom de bonzinho, de mediano, é bom de insuperável em seu gênero. E segundo, porque é feito de surpresas  de deixar qualquer um boquiaberto, aí fica quase impossível não se envolver.
Pra quem ainda não conhece a história: uma secretária chamada Marion Crane (Leigh) rouba uma pequena fortuna de seu patrão e foge no intuito de encontrar seu amante casado. No caminho, para em um motel de beira de estrada de propriedade do jovem tímido e charmoso chamado Norman Bates (Perkins). No meio da noite, Marion é assassinada no chuveiro, uma das cenas mais conhecidas de todo o cinema. Sua morte é só o início do clima de mistério e tensão que toma conta do filme até o fim. Hitchcock, que sofrera para fazer Psicose, obteve seu reconhecimento junto ao público, que fazia filas para ver o filme, e anos depois junto à crítica; atualmente Psicose ocupa a 34ª posição na lista de melhores filmes da Sight and Sound.

14. Touro Indomável (Raging Bull, 1980)
Direção: Martin Scorsese. Com Robert De Niro, Joe Pesci e Cathy Moriarty.
Alguém pode descobrir a fórmula da Coca-Cola, descobrir o que aconteceu ao ET de Varginha ou mesmo a idade de Glória Maria, mas duvido que consigam um argumento definitivo que esclareça qual o melhor filme de Scorsese, Taxi driver ou Touro indomável. Mas não é tão difícil ver qual dos dois é o mais bem feito, e a resposta é Touro. Filmado em um preto e branco belíssimo, o longa acompanha a vida do lutador Jake LaMota, o touro do Bronx, desde sua ascensão meteórica até sua queda causada pelo seu gênio imprevisível e autodestrutivo. A personalidade egocêntrica e violenta de LaMota é o centro de um filme que surpreende pela poesia e beleza em meio a tantos socos e explosões de fúria. Como conseguiram isso? Com o talento de um diretor em sua melhor forma, que lapidou minuciosamente uma joia, escolhendo ângulos perfeitos, pondo flashes em câmera lenta e explosões de sangue e suor que parecem compor uma dança em meio às personagens. E Touro indomável não seria o mesmo sem a dedicação de Robert De Niro, que se entregou a LaMota de espírito e corpo - inclusive ganhando 25 quilos para fazer a parte final, em que o outrora musculoso lutador se torna um obeso apresentador de shows em bares baratos. Sem dúvida, um dos melhores trabalhos de vencedores do Oscar de melhor ator.

13. Anticristo (Antichrist, 2009)
Direção: Lars von Trier. Com Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe.
 Não sabia se Anticristo entraria nesta lista, ainda não tinha certeza se ele tinha ficado em minha mente por eu gostar muito dele ou só pelos motivos óbvios. O filme é muito forte, muito tenso. Inicia com um prólogo em preto e branco e câmera lentíssima em que um casal transa e seu filho pequeno sofre um acidente e cai da janela do apartamento ao som de uma ópera que diz "deixe que eu chore minha cruel sorte". E é esse o principal tema do filme: o sofrimento. A personagem de Charlotte (que não tem nome, assim como o marido) entra num processo de culpa e sofrimento sem fim que começa a destruir sua razão, enquanto o marido (Dafoe), que é psicólogo, tenta ajudá-la. Os dois então vão para uma cabana numa floresta convenientemente chamada Éden, e a partir daí Anticristo põe em questão vários temas religiosos, filosóficos e psicanalíticos. E tudo isso junto a cenas chocantes de sexo, masturbação e violência física. Uma experiência tanto incômoda quanto construtiva - Trier é mais uma vez um sádico que sufoca seus espectadores, mas também se volta para dentro de si, ajustando contas com um episódio de seu passado. É pra quem tem nervos fortes, mas também pra quem quer apreciar uma obra que é tão trágica quanto bela.

12. Apocalypse Now (1979)
Direção: Francis Ford Coppola. Com Martin Sheen, Marlon Brando e Robert Duvall.
O nome Francis Ford Coppola começa a se destacar no início dos anos 70 com a vitória de Patton por melhor roteiro original e alcança um patamar ímpar com O poderoso chefão 1 e 2, alguns dos melhores filmes de todos os tempos, dirigidos e escritos por Coppola. Também nessa época A conversação, do diretor, vence a Palma de Ouro em Cannes. Coppola então se joga num projeto grandioso e arriscado: rodar nas Filipinas um filme sobre a Guerra do Vietnã. Como já falei aqui no blog anteriormente, tudo conspirou contra ele, de um ataque cardíaco do protagonista a um tufão que destruiu os sets. Mas o produto foi aquilo com o que Coppola sonhava, ou ainda melhor. Não há filme de guerra que se compare a Apocalypse Now, nem mesmo Kubrick ou Oliver Stone chegaram perto.
O capitão Willard (Sheen), das Operações Especiais do Exército recebe a missão de matar o coronel Kurtz (Brando), oficial brilhante que enlouquecera e desertara para criar no Camboja uma sociedade bizarra em que é adorado como um deus e mata sem piedade. Na viagem, Willard vê a verdadeira face da guerra e seus efeitos nas pessoas - o medo, a loucura, o horror. Depois de uma epopeia para descer o Vietnã vivenciando coisas que chegam a ser bizarras, como a "Cavalgada das Valquírias" em que um coronel surfista (Duvall) distribui morte pelos ares e diz adorar o cheiro de napalm pela manhã, Willard enfim chega ao Camboja e vê sua vida mudada pelo que tem de enfrentar para terminar sua missão. Um final ambíguo e perturbador para a mais fiel das histórias sobre a Guerra do Vietnã.

11. Dr Fantástico (Dr Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and love the bomb, 1964)
Direção: Stanley Kubrick. Com: Peter Sellers, George C. Scott e Sterling Hayden.
Entre o fim do ano passado e começo deste, me veio a vontade de conhecer melhor a filmografia de Kubrick, sendo a principal razão a forte impressão ao ver 2001: Uma odisseia no espaço. Nessa época devo ter visto cinco filme do diretor, e o que mais gostei foi Dr Fantástico, comédia de humor negro lançada em plena Guerra Fria e que satiriza a tensão nuclear existente por causa da bipolarização EUA-URSS. No filme, um general neurótico americano ordena um ataque nuclear contra a URSS sem saber que estava condenando o mundo à destruição total por causa de um sistema de defesa atômico criado pelos soviéticos, em que a denotação de uma bomba atômica provoca a explosão de centenas de outras, e as explosões teriam força para devastar a vida na Terra.
Boa parte do sucesso do filme se deve à tripla atuação de Peter Sellers, como oficial da OTAN, presidente dos EUA e Dr Fantástico, especialista em tecnologia nuclear, ex-nazista e dono de um braço direito problemático que parece ter vida própria e ainda dever obediência ao Führer. Mais uma obra-prima de Kubrick, que foi derrotada no Oscar pelo musical água com açúcar Minha linda dama.

Leia também:
Anticristo/ Dr Fantástico/ Os incompreendidos
Psicose/ Taxi driver/ Touro indomável

Luís F. Passos

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