terça-feira, 30 de abril de 2013

Lars von Trier


Dizer que Lars von Trier é um diretor polêmico já é desnecessário há muito tempo. Além de brilhante, inovador, questionador e dono de uma perícia técnica que o torna único, Trier sem dúvidas é um sádico. Seus filmes conseguem atingir o espectador em cheio, causando sofrimento emocional e psicológico - mas um sofrimento que vale a pena sentir, porque cada um desses filmes é uma experiência única.
Lars Trier nasceu em Copenhague em 30 de abril de 1956, membro de uma família de intelectuais em que tudo era permitido, exceto sentimentos e religião. O excesso de liberdade contribuiu para a sua formação intelectual, mas a falta de afeto foi a grande causadora de sua ansiedade e desejo de controlar tudo, que o acompanha até hoje. Ainda na infância ganhou sua primeira câmera filmadora, e passou a fazer curtas metragens amadores, em que buscava retratar o mundo a sua volta, e desde então buscou elaborar suas próprias técnicas.
Na década de 70, junto a um grupo de jovens cineastas, produziu dois curtas metragens não muito conhecidos; mas foi depois de sua entrada na Escola Dinamarquesa de Cinema que ele desenvolveu melhor suas técnicas, após conhecer tudo que o cinema tinha a lhe oferecer. Dirigiu outros dois curtas enquanto cursava a Escola, e quando saiu dirigiu o primeiro longa, Elemento do crime, em 1984. Seu primor técnico milimétrico lhe garantiu o Prêmio Técnico de Cannes, além de grande reconhecimento de público e crítica.
Depois de outros bons filmes na década de 80, em 1991 Trier lançou Europa, filme que mistura suspense e romance na Europa pós- 2ª Guerra. O diretor confessou que esse foi o auge se dua obsessão por controle da imagem; dessa vez ele ganhou, em Cannes, o Grande Prêmio do Júri (que é tipo segundo lugar na categoria de melhor filme) e o Prêmio de Melhor Contribuição Artística.
Depois de trabalhar na televisão, Trier elaborou junto a Thomas Vinterberg o manifesto Dogma 95, que propõe um cinema puro através de dez mandamento, como a não utilização de cenários, câmeras apenas no ombro e utilização de luz e som naturais, visando se libertar do cinema que se sustenta em efeitos especiais e buscando se voltar para a essência artística do cinema. Mas mesmo sendo autor do manifesto, apenas um filme de Trier segue totalmente o Dogma: Os idiotas (1998) - os demais têm características, mas poucas.
Lars obteve sucesso novamente em Cannes com Ondas do destino (1996), que levou o Grande Prêmio do Júri, e quatro anos depois, com Dançando no escuro, o prêmio máximo: a Palma de Ouro. No filme, uma mulher vai perdendo a visão graças a uma doença degenerativa, mas encontra consolo na música. Ela trabalha exaustivamente para juntar dinheiro e pagar uma cirurgia para que seu filho não sofra do mesmo mal que ela, mas precisa lutar contra a maldade de algumas pessoas - Trier mais uma vez criticano os defeitos humanos. O filme também recebeu prêmios e indicações por melhor filme e por suas músicas. Os três filmes acima citados compõem a chamada Trilogia do coração.
Em 2003 Trier trabalhou com Nicole Kidman, que estava em seu auge, no controverso Dogville, filme que só pelo cenário (ou ausência dele) já chama bastante a atenção. No longa, Nicole vive uma mulher que se refugia numa pequena cidade no meio das Montanhas Rochosas, e para merecer o apoio dos moradores passa a prestar pequenos favores. O problema é que os anfitriões passam a querer mais, e a moça come o pão que o diabo amassou - outra crítica à maldade e mesquinhez humana. A década teve outros filmes muito bons, que culminaram em sua mais polêmica criação, Anticristo (2009), que em sua primeira exibição, em Cannes, fez metade da platéia aplaudir de pé, enquanto que a outra metade vaiava fervorosamente. Em Anticristo Trier se volta para si mesmo e para seu passando, deixando de ser um diretor sádico para ser um diretor sádico e masoquista - o tulmutuado roteiro remete a um episódio de seu passado e de sua relação com a mãe.
O último grande episódio envolvendo o diretor foi o lançamento de Melancholia (2011), filme sobre o fim do mundo e as reações provocadas por tal evento. Um filme de uma beleza visual como poucos, dotado de sensibilidade e ao mesmo visceral - para mim, seu melhor filme - e marcado pelas grandes atuações de Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg. O filme abrange muito bem temas universais, como medo, depressão (retratando a depressão do próprio diretor) e inferioridade do ser humano diante do universo. Mas maior que o planeta Melancholia, só o ego de Trier, que o fez falar besteira numa coletiva de imprensa, em que uma piada de péssimo gosto culminou na frase "eu entendo Hitler". Armou-se um circo, Trier foi expulso do Festival, o filme, que tinha grandes chances de ganhar a Palma de Ouro, ficou de fora da competição e por pouco Kirsten nã perdeu a indicação a melhor atriz, a qual venceu merecidamente. Recentemente a organização do Festival anunciou que Lars von Trier é novamente bem vindo em Cannes, e que seus próximos filmes serão apreciados pelo júri.
O mais novo filme do dinamarquês, The Nymphomaniac, é aguardado para esse ano. O filme terá cenas de sexo explícito e contará com a participação de Charlotte Gainsbourg, uma das grandes parcerias de Trier, que ganhou o Prêmio de atuação em Cannes em 2009 por Anticristo. Aliás, grandes atuações femininas são marcas da filmografia de Lars: além de Kirsten e Charlotte, Björk ganhou o prêmio em 2000 por Dançando no escuro.

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Luís F. Passos

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