domingo, 16 de setembro de 2012

Tropa de Elite - agora o bicho vai pegar

Fé em Deus! DJ! Parapa-papapá-papá. Parapa-papapá-papá. Papará-papará-cláqui-bum!Parapa-papapá-papá.
Se você esteve no Brasil durante os últimos cinco anos e não se lembra qual a música a que pertence o trecho acima, pode procurar um neurologista. Afinal, nunca houve febre maior do que a provocada pelo corajoso e revolucionário Tropa de Elite (2007), filme brasileiro estrelado por Wagner Moura e dirigido por José Padilha. Com dois milhões de ingressos vendidos nos cinemas e pelo menos vinte e cinco milhões de dvds pirateados em todo o país, foi a maior fonte de bordões, músicas virais e paródias (inclusive as mais infames, como Bofe de Elite) daquele ano.
Morro do Dendê é ruim de invadir; nóis c'os alemão vamo se divertir. Porque no Morro do Dendê eu vou dizer como é que é: aqui não tem mole nem pra DRE. Pra subir no Dendê até a BOPE treme!
Roberto Nascimento (Wagner Moura) é capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro e chefe da equipe Alfa do Batalhão de Operações Especiais, o BOPE. Enquanto a PM era composta por trinta mil homens, em sua maioria mal armados e mal treinados, o BOPE contava com apenas cem militares - uma tropa de elite preparada para as piores situações, principalmente as que envolvem o combate ao tráfico de drogas nas favelas. Segundo Nascimento, o BOPE só faz parte da PM na teoria, porque na prática é outra polícia. Não veste azul, veste preto, e seu símbolo é uma caveira com uma faca enfiada; portava armas usadas apenas em países em guerra (e mesmo assim inferiores às do tráfico) e é o único batalhão onde não há corrupção. Nas palavras de Nascimento, num lugar violento como o Rio, e com os baixos salários recebidos pelos policiais, so há três caminhos: a omissão, a corrupção ou a guerra. E a opção dos membros do BOPE sempre foi a guerra.
Bota na conta do papa.
O ano é 1997 e a mulher de Nascimento, Rosana, está esperando o primeiro filho do casal. Cansado da guerra ao narcotráfico, o capitão pretende abdicar de sua farda preta e retornar à polícia normal, mas para isso ele precisa cumprir duas missões: encontrar um substituto a sua altura para chefiar sua equipe e pacificar as favelas em torno da sede da Arquidiocese do Rio, onde o papa João Paulo II ficará hospedado durante sua visita ao Brasil ("Tanto hotel em Copacabana e o papa quer dormir embaixo de favela? Depois de vir duas vezes ao Brasil, ele deveria saber como é que a banda toca por aqui"). É aí que a história de Nascimento se cruza com a de dois aspirantes a oficiais, Neto Gouveia (Caio Junqueira) e André Mathias (André Ramiro). Os dois são amigos de infância e entraram na polícia juntos. Ambos são honestos e idealistas, e assim que conhecem como é a PM por dentro - corrupta da ponta do pé ao último fio de cabelo - se decepcionam com a instituição e veem o BOPE como última esperança.
- Operações Especiais!
- NUNCA SERÃO!
Aí que vem a parte mais chocante do filme, e a maior responsável por sua popularidade: o curso de treinamento do BOPE. São duas semanas em que os aspirantes passam por coisas que só um soldado americano no Vietnã saberia descrever. Exercícios puxadíssimos, fome, frio, comida estragada e o terror físico e psicológico por parte dos membros do batalhão. Nascimento não esconde o jogo e se mostra o pior dos carrascos, pronto pra expulsar logo os fracos e os corruptos.
Pega um, pega geral, também vai pegar você!
Tropa de Elite foi avassalador, e não é difícil entender o porquê. Pra quem gosta de ação, o que não falta são ótimas sequências, mostrando a estratégia (em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie...) do BOPE na invasão de favelas, além do impressionante treinamento dos aspiras. Pra quem quer botar a cabeça pra trabalhar um pouco mais o filme traz a polêmica questão do consumo de drogas, apresentando a ideia de que não haveria venda se não houvesse alguém pra comprar. Nascimento, numa cena, aponta a arma para um usuário dizendo "é você quem sustenta toda essa merda". Esse lado também é mostrado através de Mathias, que estuda direito numa faculdade particular e presencia o uso e a venda de drogas por parte de colegas ligados a Baiano (Fábio Lago), "dono" do morro dos Prazeres, mas se omite por estar apaixonado por uma delas.
- Homem de preto, o quê que você faz? Eu faço coisa que assustam o Satanás!
- Homem de preto, qual é sua missão? Entrar na favela e botar corpo no chão!
Mas aquilo que o filme tenta passar mesmo é o absurdo da violência usada pelo BOPE ao entrar em comunidades e ao interrogar suspeitos. É impressionante. Nascimento não hesita em bater no rosto, botar no saco ou até mesmo ameaçar com uma vassoura (vocês lembram onde). Direitos humanos são postos de lado no abuso da força policial. O legal é que exigiu muito de Wagner Moura, e o cara não decepcionou, fazendo um ótimo trabalho (que foi melhor ainda no segundo filme). Sua atuação foi reconhecida em alguns festivais nacionais, assim como a de Milhem Cortaz, que faz o corrupto capitão Fábio, amigo dos aspiras Neto e Mathias. Mas quem foi reconhecido mesmo foi o filme, que levou o Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim (Melhor Filme). Mas como Nascimento diz, nesse país as coisas não acontecem como deveriam: Tropa de Elite não foi indicado ao Oscar, pois nosso querido Ministério da Cultura escolheu "O ano em que meus pais saíram de férias" para a seletiva da Academia - e este nem foi aprovado. Pior que isso só o que aconteceu com Tropa 2, mas isso é assunto para os próximos capítulos.
Na cara não, doutor, na cara não! Na cara não, pra não estragar o velório!
Luís F. Passos

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