quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Vencedor - a luta dos perdedores

Rocky, um lutador (Rocky, 1976). Touro indomável (Raging Bull, 1980). Menina de ouro (Million dollar baby, 2004). De todos os esportes que existem, o boxe parece ser o preferido de Hollywood e já virou tema principal ou pano de fundo de vários filmes ao logo das décadas. O mais recente a fazer uso dessa luta foi O vencedor (The fighter, 2010), que acompanha a trajetória de Micky Ward (Mark Wahlberg) e de sua desajustada família de perdedores fracassados que vivem no fundo do poço.
Micky é um lutador muito esforçado, que tem como exemplo e treinador seu irmão mais velho, Dicky Eklund (Christian Bale). Dicky é um ex-lutador de boxe profissional, atualmente no fundo do poço devido ao seu vício em crack, que é tido como o herói de Lowel (cidade onde eles vivem) por ter vencido uma luta importante contra um grande boxista da época, Sugar Ray Leonard. A questão é que Dicky é tão desequilibrado, inconseqüente e autodestrutivo, que acaba tornando-se um peso na carreira do próprio irmão, impedindo-o de avançar como profissional. Micky ainda tem como empresária, sua mãe, Alice Ward (Melissa Leo), uma mulher que tem como seu filho mais velho uma referência de orgulho, de modo que é incapaz de enxergar (ou pelo menos finge não dar importância) o fundo do poço aonde Dicky chegou e para onde ele está levando Micky.
Ao perceber que a situação parece que não vai melhorar, Micky resolve começar a trilhar seu próprio caminho, com a ajuda de sua namorada, a garçonete Charlene (Amy Adams), tentando lutar por si mesmo e não apenas viver os reflexos do seu irmão fracassado.
Paralelamente, Dicky também deve encarar mudanças drásticas em sua vida. Após uma prisão e a exibição de um documentário que expõe seu vício e sua decadência ele se vê obrigado a buscar uma melhora em defesa de si mesmo e de sua própria família.
O mérito de O vencedor não é o boxe em si. O que chama mais a atenção é a família como um todo e de como eles se relacionam. Além dos três membros que já falei, Alice tem mais sete filhas desocupadas e ignorantes com seus cabelos mirabolantes e bagunçados (elas são responsáveis pelo gancho de comédia do filme). De um modo muito estranho, eles são uma família extremamente unida. Essa união desmedida chega a ser até mesmo destrutiva para eles. Ao mesmo tempo em que Micky só consegue seguir em frente com o apoio dessas pessoas, também são elas que o impedem de evoluir. Se às vezes todos parecem apenas se aproveitar do rapaz pelo que ele possa ganhar em suas lutas, outras vezes eles realmente se importam com ele, festejam suas vitórias e também sofrem suas derrotas. É uma relação muito delicada e também muito complicada. A grande vitória de Micky Ward não está nos ringues, está em sua vida pessoal, em ser capaz de alcançar o equilíbrio em situações tão adversas. 
O vencedor é um filme interessante, com um roteiro simples e direto, mas de forma alguma banal. Também sabe muito bem aliar cenas dramáticas com cenas de ação. Num momento, acompanhamos crises e reflexões pessoais das personagens, em outro somos levados de volta aos ringues para torcer por Micky Ward. Aliás, Micky é um daqueles personagens que faz a gente torcer por ele. Torcer para que ele saia da vida degradante que ele e se torne um verdadeiro vencedor. Ao assistir o filme se é automaticamente levado a gostar de todas as personagens, sem exceções. Todos são muito carismáticos, mas o destaque maior vai para Christian Bale e Melissa Leo. Dicky é a personagem mais interessante do filme, e rouba muito a cena do protagonista. Muito mesmo. O principal cartaz de divulgação do filme traz Bale em um destaque enorme, enquanto Wahlberg aparece no plano de fundo junto com Amy Adams (coadjuvante de primeira linha no filme e atriz que tem feito grandes trabalhos nos últimos anos). Seu jeito extravagante e egocêntrico, como se ainda fosse alguém importante chega a ser meio triste. Viver de passado é uma coisa deprimente, ainda mais negando a realidade. A Alice de Melissa Leo também é super legal, com seu jeito de mãe ignorante, irresponsável e ao mesmo tempo super protetora. Os dois saíram vencedores do Oscar nas categorias coadjuvantes de atuação.
O filme ainda recebeu outras cinco indicações ao Oscar, incluindo de melhor filme, melhor direção (David O. Russel, direto pouco conhecido) e de melhor atriz coadjuvante para Amy Adams (a terceira melhor atuação do filme, depois de Bale e Leo. Ninguém dá muita atenção a Mark Wahlberg mesmo.)
Obs: baseado em fatos reais!


Lucas Moura

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