domingo, 18 de março de 2012

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Agora a coisa ficou séria. Poucas vezes falei sobre um livro tão importante aqui no blog, e que também é um de meus livros preferidos. Conheci a história a alguns anos, quando vi o filme na escola, e procurei o livro dada a sua importância no vestibular. Mas bem mais que conteúdo de provas de vestibular, Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro muito divertido e de imenso valor literário.
"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas". É assim que começa a narração em primeira pessoa feita por Brás Cubas, milionário que depois da morte resolveu escrever suas memórias - sendo, portanto, um defunto-autor, e não um autor defunto. Isento de qualquer compromisso com a sociedade discriminatória e preconceituosa da qual fez parte por toda a vida, Brás Cubas conta sua história sem nenhum pudor.
Filho mais velho de um casal muito rico, Brás Cubas cresceu cheio de mimos e com pouco incentivo a desenvolver talentos. Logo na sua juventude temos um dos mais notáveis acontecimentos do enredo, seu romance com Marcela, mulher de muita beleza e nenhum caráter. O defunto chega a dizer "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis". O namoro tem fim quando o pai de Brás o manda a Portugal para estudar. Ele volta com diploma de bacharel, mas este é esquecido na gaveta.
Ao longo dos anos Brás Cubas vai se tornando um homem solitário. Os pais morrem, a única irmã se casa e vai morar com o marido, e Brás continua sendo um ilustre solteirão. Duas outras mulheres aparecem para mexer com seu coração: Eugênia (era linda, mas coxa) e mais importante, Virgília. Membro de uma família de importantes políticos, Virgília era uma linda moça por quem Brás se encanta, mas ela é dada em casamento a Lobo Neves, que tinha um belo futuro na política. Anos depois Brás e Virgília se reencontram e se tornam amantes; o caso tem fim quando Lobo Neves é transferido para a província do Pará.
Capa desenhada por Candido
Portinari, com o verme citado
por Brás Cubas
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) é o livro que inaugura o Realismo no Brasil. Machado de Assis, que antes escrevia obras de características românticas, sacode a literatura nacional com esse livro ímpar. São fortes as características realistas: objetivismo, cientificismo, pessimismo e descrença no ser humano. Brás Cubas, assim como muitos da época, era um parasita social, não trabalhava, vivendo dos rendimentos de sua grande fortuna. Por ser tão rico, ele não se interessou por trabalho e morreu sem deixar nenhuma contribuição para o mundo. Ele próprio diz isso no "Capítulo das negativas", em que aponta todas as grandes coisas que queria ter feito e não fez.
A infidelidade, que é recorrente na obra machadiana, é mostrada aqui com o triângulo Brás-Virgília-Lobo Neves. Virgília também é motivo para aumentar a frustração e a amargura de Brás Cubas.
E a ironia, presença obrigatória nos livros realistas de Machado de Assis, aqui é notável a quase todo instante, acompanhada do humor ácido do defunto narrador. Na adaptação para o cinema esse humor foi muito bem aproveitado pelo ator Reginaldo Faria, que interpretou Brás e conseguiu arrancar boas risadas de quem viu o filme.
Inteligente, astuto, inovador. Assim é Memórias Póstumas de Brás Cubas, um de meus clássicos favoritos.

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