sábado, 11 de fevereiro de 2012

Doidinho

Depois de crescer no engenho do avô como um legítimo moleque descontrolado, Carlinhos é levado por seu tio Juca a Itabaiana, para estudar no colégio interno de seu Maciel. O colégio, como o menino logo descobriu, era o mais rigoroso da cidade - o temperamento rude do diretor e a palmatória garantiam a eficácia da disciplina. A primeira coisa que fez Carlinhos perceber que sua vida ia mudar foi com o tratamento, passando a ser chamado de seu Carlos de Melo. As primeiras semanas no colégio foram muito difíceis: os estudos do menino estavam atrasados - o que fez a palmatória de seu Maciel cantar muito em suas mãos - e as saudades da família e dos amigos o atormentaram bastante. 
Mas aos poucos Carlinhos passa a enxergar o colégio com outros olhos: melhora nos estudos e se torna mais interessado e aprende a conviver com seus colegas, principalmente o João José, apelidado de Coruja. É em Coruja que Carlinhos encontra amizade e lealdade - o amigo, inclusive, era o único que não o chamava de Doidinho, apelido que ganhara por ser muito inquieto. Aliás, todos na escola tinham apelidos: Pão-Duro (o avarento), Papa-figo (um menino que tinha uma grave doença e estava sempre pálido), entre outros.
Outro fato que merece atenção é o amor não correspondido por Maria Luísa, que estudava no colégio mas em regime aberto. Carlinhos chega a enviar recados, que são interceptados por seu Maciel e devidamente punidos com palmatória e humilhação. E assim é a permanência de Carlos de Melo no colégio, cheia de altos e baixos.
Doidinho (1933) é a continuação de Menino de engenho (post aqui) , e apresenta diferenças importantes em relação ao primeiro. Ele é menos lírico e saudosista e também é mais crítico e social, isso porque Carlinhos passa a perceber que o mundo é bem maior do que o engenho de seu avô. Ele passa a ver as grandes injustiças do mundo, como o autoritarismo e a pobreza - reforçando o típico caráter esquerdista da 2ª fase modernista. Carlinhos também volta a sofrer com as lembranças do pai e da morte da mãe. É um ótimo livro, mas confesso que gosto mais de Menino de engenho. Mas nem por isso deixo e recomendá-lo.
Por se passar num colégio interno, Doidinho é constantemente comparado a O Ateneu, clássico de Raul Pompeia.

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